sexta-feira, 12 de março de 2010

Genealogia e demografia, um projecto a desenvolver

Quando está prestes a terminar a série de artigos sobre a Póvoa – Ontem e Hoje, traz-se a público um projecto que tem sido desenvolvido paralelamente por um pequeno grupo de três pessoas que, embora dispersas por Portugal e pelo Brasil, se orgulham das suas ligações familiares com a Póvoa de Rio de Moinhos. Embora exista a intenção de vir a publicar autonomamente os resultados do trabalho em curso, entende-se, apresentar, desde já e de forma sucinta, o que se fez e o que se visa.

Como já referido em artigo anterior, um dos elementos do grupo, procedeu ao levantamento sistemático dos registos paroquiais da Póvoa de Rio de Moinhos, existentes no Arquivo Distrital de Castelo Branco (cerca de 1800 registos de baptismo, 800 de casamento e 2.500 de óbito).

Agora, os outros dois elementos Iniciaram o levantamento dos registos existentes na Torre do Tombo em Lisboa, no período decorrido entre 1560 (inicio do registo) e 1771 (casamentos e óbitos) e 1844 (baptismos), pretendendo-se completar o levantamento de todos os registos existentes entre 1560 e 1905. Para o período posterior, dado que os registos não estão disponíveis, restará o recurso a fontes alternativas, ou á memória das pessoas que o viveram *.

A informação recolhida possibilitará um estudo demográfico global da Póvoa e o conhecimento profundo de como aí se viveu, ao longo dos tempos. Entre muitos outros aspectos será possível saber com que idade se casava, quantas crianças nasciam, número médio de filhos por casal, quantos anos se vivia, nomes mais usuais, etc. Outro aliciante, consiste na possibilidade de apurar a árvore genealógica de qualquer família da Póvoa, ficando-se a saber quem foram os seus antepassados, eventualmente desde o século XVI, desde que se conheçam os que nasceram após 1905.

Embora, o levantamento dos registos existentes na Torre do Tombo ainda esteja em curso, prevendo-se que leve alguns meses a completar, o que só permite retirar conclusões válidas para o período integralmente levantado (1811-1905), é possível, no entanto, proceder a um ponto de situação quanto ao trabalho já efectuado.

Nesta altura, estão referenciados como tendo, comprovadamente, nascido na Póvoa, 7.619 indivíduos, dos quais, 3.879 raparigas e 3.703 rapazes, não sendo possível apurar o sexo de 37 indivíduos falecidos à nascença ou com registo ilegível. O indivíduo mais antigo referenciado, terá nascido por volta de 1520, embora o primeiro baptismo registado tenha sido o de um António, em 17 de Dezembro de 1560.

Desde 1530, os nomes femininos mais utilizados foram: Maria (1.567), Isabel (301), Catarina (293), Ana (212), Joaquina (180), Joana (159), Josefa (77), Leonor (73), Domingas (72), e Clara (64). Os masculinos: Manuel (830), José (397), António (333), Francisco (276), João (256), Domingos (256), Joaquim (177), Pedro (149), Alexandre (72) e Luciano (60).

Mas os nomes foram evoluindo como as modas. Se no século XVI o mais vulgar era chamar às raparigas Maria ou Isabel e, aos rapazes, Manuel ou António, também se usavam nomes como Gaspar, Lopo, Martim, Águeda, Brites, Bento, Mécia, Antão, Pascoal, Valeriana ou Simoa. Foi preciso esperar, pelo século XVII, para aparecerem as primeiras crianças de nome José, João, Joaquim, Joana, Clara ou Antónia e, pelo XVIII, para as de nome Joaquina, Josefa, Alexandre, Bernardo, Vitória ou Luísa. No século XIX, surgiram, pela primeira vez, os nomes Luciano, Hermínia, Carolina, Duarte, Cândida e Dâmaso.

No período 1812-1905, do qual já se podem retirar conclusões válidas, salienta-se um primeiro aspecto que pode ser abordado com certeza. A terrível mortalidade infantil que, à semelhança do que acontecia em todo o país, flagelou a Póvoa, até há muito poucos anos.

Refira-se, para enquadrar o problema ao nível do país, que a situação ainda no fim deste período, não era muito mais favorável, bastando recordar o afirmado no Parlamento, a 3 de Junho de 1908, pelo então deputado António José de Almeida, futuro Presidente da República: “Em cada 1.000 sepulturas abertas, em 1904, nos cemitérios de Lisboa, 326 foram para crianças e é sabido que a quinta parte dos portugueses que morrem por ano são crianças nos primeiros 12 meses de vida (...)”.

Na Póvoa, neste período, em média e por ano, registou-se o nascimento de cerca de 30 crianças e cerca de 15 óbitos. Destes, cerca de 62% foram de crianças até aos 10 anos de idade e cerca de 44% até aos 2 anos.

Dos 95 anos analisados, em 68, a mortalidade de crianças até 10 anos representou 50% ou mais dos óbitos verificados, salientando-se, a título de exemplo, os anos de 1818 (7 crianças em 7 óbitos), 1819 (11 em 12), 1820 (18 em 22), 1861 (5 crianças em 5 óbitos), 1875 (32 em 37), 1879 (13 em 14), 1881 (21 em 24), 1882 (18 em 22 ) e 1904 (18 em 22).

Ao nível dos casais que mais terão sofrido o impacto desta mortalidade infantil tão exagerada, salientem-se, entre tantos outros, os seguintes:

• Manuel Alexandre e Joana Duarte Beirão, casados em 1805, a quem faleceram 14 filhos, todos em tenra idade;

• Manuel Pinto Barata e Clara da Silva, casados em 1872, tendo falecido 10 dos seus 14 filhos, até aos quatro anos de idade;

• Dionísio dos Santos Saraiva e Inês Rosa, casados em 1813, que em idênticas circunstâncias perderam 10 de 13 filhos;

• Manuel Magro e Joaquina dos Passos, casados em 1874, que perderam todos os 8 filhos, falecendo a mãe aquando do parto do último;

• António José Mendes e Josefa Vaz que, entre 24/10/1808 e 21/12 do mesmo ano, perderam 4 filhos.

Vítor Carvalho, Luís Duque Vieira, Lourval Silva

* Quaisquer dados referentes a pessoas nascidas na Póvoa após 1905 poderão ser enviados, por mail para vmpcar [arroba] gmail.com ou lourval [arroba] hotmail.com, ou ser entregues pessoalmente aos signatários na Póvoa de Rio de Moinhos

Fonte: http://www.reconquista.pt/noticia.asp?idEdicao=222&id=19664&idSeccao=2396&Action=noticia