quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A Irmandade das Almas

Pelas informações colhidas nas Memórias Paroquiais pombalinas de 1758, referidas na peça anterior, verificámos que a Póvoa de Rio de Moinhos, nesta data, tinha duas irmandades: “uma do Senhor e outra das Almas”.

É desta última que queremos dar conta, inserindo-a na devoção às Almas do Purgatório, muito querida nesta tão antiga povoação, certamente revitalizada pela reforma tridentina.

Recorde-se que o concílio de Trento, no séc. XVI, ao definir a doutrina do Purgatório, proclamou a sua existência, acrescentando que as almas ali retidas, podem ser ajudadas pelo sufrágio dos fiéis. Deste modo, ordenou-se aos bispos conciliares que esta devoção fosse acreditada, mantida e ensinada em toda a cristandade.

Relativamente às irmandades medievais, como sabemos, era uma forma de organização para fomentar a solidariedade social. Tanto cuidavam dos vivos, como zelavam pelos defuntos. Para objecto do nosso estudo, focaremos apenas o segundo aspecto.

A relação entre os vivos e os mortos, segundo a fé dos fiéis, não termina com o falecimento das pessoas da comunidade. Estas continuam bem próximas, até quase fisicamente, dado que os cemitérios eram em redor das igrejas ou mesmo dentro delas, até ao séc. XIX.

Se a Irmandade das Almas da Póvoa já é constatada em 1758, nada sabemos ao certo da data do seu início. Mesmo a documentação hoje guardada na igreja matriz de S. Lourenço, apenas nos esclarece, acerca da sua vida, a partir de 1859, faz agora 150 anos.

Pelos dados apurados nos dois livros da Irmandade, consultados na igreja matriz, ficamos a saber que havia uma jóia de 600 réis para a adesão e uma quota anual de 50 réis.

Os Irmãos atingiam nesta altura, meados do séc. XIX, as três dezenas. No início do séc. XX, este número subiria para as seis dezenas, atingindo a quota anual, dois escudos. Este valor manteve-se praticamente inalterado até que, em 1977, foi elevado para os cinco escudos. Só que, nesta altura, o número de irmãos já era escasso, apenas três dezenas. A Irmandade foi assim perdendo fôlego, vindo mesmo a extinguir-se em finais da década de setenta. Nos últimos anos, já eram os párocos que ainda iam tentando manter os poucos Irmãos, chegando a ter de executar a cobrança das quotas.

Seja como tenha sido, a Irmandade, enquanto existiu, procurou desenvolver algumas actividades relacionadas com o sufrágio pelos Irmãos falecidos e ainda pelas Almas do Purgatório. Assim, nos primeiros Domingos do mês, a “Missa das Almas”, às oito horas da manhã, era celebrada por intenção dos Irmãos falecidos. Por altura da Quaresma, a Irmandade mandava celebrar um “Ofício” pelas almas, ficando a seu cargo as despesas do mesmo. Além das quotas do Irmãos, encontrava-se na igreja Matriz uma “Caixa das Almas”, cujo produto revertia para o mesmo fim. Com as contribuições ainda hoje aqui depositadas, se celebraram cinco missas neste ano. No fundo, trata-se de uma continuação informal das antiga Irmandade.

A Confraria das Almas da Póvoa, como era habitual, possuía a sua Bandeira, ostentada nos funerais dos Irmãos falecidos, pintada com gosto muito popular nas duas faces. Numa, encontra-se a figura de S. Miguel, com a balança e as Almas do Purgatório, rogando a seus pés. Na outra, uma Pietá. Cristo morto, envolvido no regaço de Maria. Depois de recuperada e restaurada pelo actual pároco, padre José Varão, esta bandeira encontra-se hoje emoldurada nas paredes laterais do interior da Matriz.

A Irmandade zelava ainda pelo Nicho das Almas que se encontra na estrada principal, na entrada da povoação, a seguir à ponte do rio. Trata-se de um belo oratório em granito, incrustado num muro, ostentando por cima uma rendilhada cruz de ferro forjado. No interior do nicho, um azulejo policromado de Nossa Senhora do Carmo, com túnica castanha e manto amarelo. O Menino está vestido de rosa e ostenta, com Nossa Senhora, um escapulário.

Outra iniciativa quaresmal, desenvolvida pela Irmandade das Almas, consiste no cantar da Encomendação das Almas, ao longo da quadra quaresmal.

Segundo a tradição, este ritual inicia-se na primeira sexta-feira da Quaresma e canta-se no mesmo dia da semana, até à Sexta - Feira Santa.

Esta iniciativa ainda hoje é mantida, graças à participação de um grupo de senhoras, formado por Maria Carolina Barata, 1ª voz, acompanhada por Virgínia Freire Pinto, as irmãs Maria dos Anjos e Amélia Martinho e ainda Maria de Fátima Barata Duarte e Emília Marques. Este ritual inicia-se às onze horas da noite, junto ao cruzeiro da igreja, percorrendo de seguida alguns lugares mais altos da freguesia, como o Largo da Praça, a rua da Fonte, a rua das Escadas do Outeiro...

Este cântico começa pela seguinte súplica:

“Eu vos peço, oh Irmãos meus/ Um Pai Nosso e uma Avé - Maria/ Pelas Almas do Purgatório/Pelo Divino amor de Deus”.

Esta Encomendação, a caixa das almas da igreja e as missas celebradas por intenção das mesmas, prolongam ainda hoje, embora de um modo informal, o essencial da Irmandade que era manter os laços de solidariedade entre os vivos e os seus entes queridos, já falecidos.

Florentino Beirão


Fonte: http://www.reconquista.pt/noticia.asp?idEdicao=194&id=15877&idSeccao=2020&Action=noticia

sábado, 22 de agosto de 2009

Summer Fest


Artur Patuleia - 910309762
João Lourenço - 963356751

Fonte: digualgação pedida por JS - Federação Distrital de Castelo Branco.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A Igreja Paroquial

A Igreja da Póvoa nasceu da divisão da paróquia medieval de S. Vicente, cuja área coincidia inicialmente com a do concelho. Desconhecemos a data em que foi criada, mas sabemos seguramente ter sido antes do reinado de D. João II (1481-1495).

Em 1709, o vigário de S. Vicente registou, por escrito, os usos e costumes da Igreja Matriz de S. Vicente da Beira (1). Escreveu que, segundo uns autos de visita realizada à igreja de S. Vicente, em 1539, «Na Póvoa de Rio de Moinhos, havia um capelão posto alternativamente pelo comendador e prior, com obrigação de dizer missa aos domingos e festas e administrar os sacramentos.» O mesmo documento informa que essa situação já vinha do tempo de D. João II.

O comendador referido era o da comenda de Ordem de Avis, existente no concelho de S. Vicente da Beira desde a Idade Média e com vastas propriedades na Póvoa. O prior era o do mosteiro de S. Jorge de Coimbra.

Os produtos devidos à Igreja, que resultavam sobretudo do pagamento da dízima, eram armazenados, num lugar chamado tulha, e divididos em três partes: uma para o bispo da Guarda, outra para o comendador de Avis e a terceira para o prior de S. Jorge. Era com estes bens que o comendador e o prior pagavam o cura da Póvoa e as despesas da Igreja.

Mais tarde, extinguiu-se o priorado de S. Jorge e dos seus bens fez-se uma nova comenda, a da Ordem de Cristo, com a incumbência de satisfazer as obrigações anteriormente confiadas ao prior.

Em 1758, nas Memórias Paroquiais (2), o cura Manuel Rodrigues Malha informou que «O pároco é cura anual apresentado um ano pelo comendador e outro ano pelo vigário de São Vicente da Beira. Tem de porção trinta e sete alqueires e meio de centeio e quatro de trigo, quatro almudes de vinho, sete mil e quinhentos réis em dinheiro e a cera necessária para todo o ano.»

O comendador era o de Avis e o vigário de S. Vicente, escolhido pela Ordem de Cristo, desempenhava a função de nomear o cura, em representação desta ordem.

O Padre Manuel Rodrigues Malha também descreveu a Igreja da Póvoa, que se situava fora do povo, mas contígua a ele. O orago era São Lourenço e o templo tinha três altares: o altar-mor e dois laterais, um de Nossa Senhora do Rosário e outro do Santo Nome de Deus. Havia duas irmandades, uma do Senhor e outra das Almas.

Quanto às ermidas, o cura informou: «Tem três ermidas, uma de Santo Sebastião, contígua ao povo, outra de Nossa Senhora da Encarnação, distante do povo um tiro de bala, outra de Santa Águeda, distante meia légua. A de Nossa Senhora da Encarnação é frequentada de romagem todo o ano e a de Santa Águeda no seu dia. A da Senhora da Encarnação é apresentada pelos oficiais da câmara deste povo e a de Santa Águeda pelo ordinário.»

As capelas de Santa Águeda e de Nossa Senhora da Encarnação eram zeladas por ermitões, mas esta pertencia à Câmara, enquanto a primeira era administrada pelo cura, em representação do bispo da diocese.

(1) ANTT, Registos Paroquiais, S. Vicente da Beira, Óbitos, livro 1, fólios 4-9v.

(2) ANTT, Memórias Paroquiais, Póvoa de Rio de Moinhos, volume 30, fólios 1875-1878.

José Teodoro Prata

Fonte: http://www.reconquista.pt/noticia.asp?idEdicao=192&id=15702&idSeccao=1994&Action=noticia

sábado, 8 de agosto de 2009

Faleceu o Padre Chaves

Na passada sexta-feira faleceu no Hospital de Portalegre p sr. Padre António Rodrigues Chaves, com 80 anos de idade, feitos a 11 de Abril.
Era natural de Alcaravela, fora ordenado a 27 de Junho de 1954, e tinha residência em Flor da Rosa (Crato) onde era pároco. Nesta zona servira as paróquias de Flor da Rosa, Aldeia da Mata, Chancelaria, Crato-Mártires; em tempos idos foi pároco de Sobral do Campo, Ninho de Açor, Póvoa de Rio Moinhos e Cafede na zona de Castelo Branco, e de Carreiras e Ribeira de Nisa na zona de Portalegre.
O funeral realizou-se no dia seguinte para a sua terra natal, sob a presidência do Bispo da Diocese.
Paz à sua alma.


Fonte: http://www.reconquista.pt/noticia.asp?idEdicao=191&id=15575&idSeccao=1987&Action=noticia