Em 1709, o vigário de S. Vicente registou, por escrito, os usos e costumes da Igreja Matriz de S. Vicente da Beira (1). Escreveu que, segundo uns autos de visita realizada à igreja de S. Vicente, em 1539, «Na Póvoa de Rio de Moinhos, havia um capelão posto alternativamente pelo comendador e prior, com obrigação de dizer missa aos domingos e festas e administrar os sacramentos.» O mesmo documento informa que essa situação já vinha do tempo de D. João II.
O comendador referido era o da comenda de Ordem de Avis, existente no concelho de S. Vicente da Beira desde a Idade Média e com vastas propriedades na Póvoa. O prior era o do mosteiro de S. Jorge de Coimbra.
Os produtos devidos à Igreja, que resultavam sobretudo do pagamento da dízima, eram armazenados, num lugar chamado tulha, e divididos em três partes: uma para o bispo da Guarda, outra para o comendador de Avis e a terceira para o prior de S. Jorge. Era com estes bens que o comendador e o prior pagavam o cura da Póvoa e as despesas da Igreja.
Mais tarde, extinguiu-se o priorado de S. Jorge e dos seus bens fez-se uma nova comenda, a da Ordem de Cristo, com a incumbência de satisfazer as obrigações anteriormente confiadas ao prior.
Em 1758, nas Memórias Paroquiais (2), o cura Manuel Rodrigues Malha informou que «O pároco é cura anual apresentado um ano pelo comendador e outro ano pelo vigário de São Vicente da Beira. Tem de porção trinta e sete alqueires e meio de centeio e quatro de trigo, quatro almudes de vinho, sete mil e quinhentos réis em dinheiro e a cera necessária para todo o ano.»
O comendador era o de Avis e o vigário de S. Vicente, escolhido pela Ordem de Cristo, desempenhava a função de nomear o cura, em representação desta ordem.
O Padre Manuel Rodrigues Malha também descreveu a Igreja da Póvoa, que se situava fora do povo, mas contígua a ele. O orago era São Lourenço e o templo tinha três altares: o altar-mor e dois laterais, um de Nossa Senhora do Rosário e outro do Santo Nome de Deus. Havia duas irmandades, uma do Senhor e outra das Almas.
Quanto às ermidas, o cura informou: «Tem três ermidas, uma de Santo Sebastião, contígua ao povo, outra de Nossa Senhora da Encarnação, distante do povo um tiro de bala, outra de Santa Águeda, distante meia légua. A de Nossa Senhora da Encarnação é frequentada de romagem todo o ano e a de Santa Águeda no seu dia. A da Senhora da Encarnação é apresentada pelos oficiais da câmara deste povo e a de Santa Águeda pelo ordinário.»
As capelas de Santa Águeda e de Nossa Senhora da Encarnação eram zeladas por ermitões, mas esta pertencia à Câmara, enquanto a primeira era administrada pelo cura, em representação do bispo da diocese.
(1) ANTT, Registos Paroquiais, S. Vicente da Beira, Óbitos, livro 1, fólios 4-9v.
(2) ANTT, Memórias Paroquiais, Póvoa de Rio de Moinhos, volume 30, fólios 1875-1878.
José Teodoro Prata
Fonte: http://www.reconquista.pt/noticia.asp?idEdicao=192&id=15702&idSeccao=1994&Action=noticia
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