quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Quem o soube segurar, ganhou!

Vamos hoje recordar um período bastante conturbado, quer na Póvoa quer em muitas povoações vizinhas, de repente envolvidas na crise que precedeu a segunda guerra mundial e se arrastou até ao seu final, fazendo-se sentir sobretudo nos anos que entre as populações ficaram conhecidos para o bem e para o mal por “os anos do minério” (1939-1945).

Apesar de Portugal não ter participado directamente na guerra, o estatuto de neutralidade não obstou a que toda a vida rural sofresse as alterações resultantes da exploração do minério que através de Espanha era encaminhado para a Alemanha, e que uma economia rural não sofresse as consequências e as alterações que o conflito levou a todas as nações envolvidas e seus aliados.

Num país pouco industrializado, com largas camadas da população a viver do dia a dia dos trabalhos dos campos para manter a sua sobrevivência, esta grande mudança não podia passar despercebida. Todos lutaram para melhorar os seus haveres e alguns inebriados pelas novas oportunidades só sonharam com futuros que nunca se chegaram a concretizar.

O Governo, com receio do abandono generalizado dos trabalhos do campo, da falta e subida dos preços dos bens alimentares e da carestia geral de vida, deu instruções aos governadores civis para que proíbissem as explorações clandestinas, fonte de abandono da agricultura e origem de motins e guerras entre famílias e populações.

Interessa-nos sobretudo tentar perceber como se passaram as coisas aqui na Póvoa naquele período. A febre do volfrâmio e da sua exploração e comercialização não se fez sentir por aqui, tendo-se concentrado nas aldeias mais próximas das minas da Panasqueira. Contudo a exploração do minério de estanho foi, como acima referimos, objecto de atenção dos nossos conterrâneos.

Ouvimos alguns dos que participaram directamente na extracção do minério de estanho. Manuel André foi um dos primeiros. Toda a sua família andou na exploração do minério e de acordo com o seu testemunho podemos reconstruir o ambiente que então se viveu.

Quando começaram, foram orientados por uns homens de Medelim que vinham no princípio da semana e no final da semana regressavam levando consigo o produto da exploração, voltando na semana seguinte.

Isto passava-se na Lameira do Salgueiro, junto ao lugar que mais tarde veio a ser conhecido por Marateca. Os processos de exploração eram simples: a areia recolhida dos ribeiros e regatos e das escavações em terrenos de aluvião era recolhida e lavada. As bagas de estanho escuras e mais pesadas depositavam-se no fundo das bacias utilizadas e eram recolhidas. Mais tarde, para a extracção ser mais fácil e rápida, utilizavam-se “caleiras” de madeira para movimentar as terras e as águas. Tudo se passava a céu aberto, removendo terras e areias.

Após o ciclo dos homens de Medelim, constituíram-se sociedades que exploravam e compravam todo o minério. Existem ainda, junto à estrada nacional Castelo Branco - Guarda, as ruínas das instalações de uma dessas Companhias: a SMEL, Sociedade Mineira da Lardosa, constituída por interesses portugueses e alemães.

Os locais mais explorados foram: a Lameira do Salgueiro, os Barrinhos, a Tapada do Amaro, e outros, todos próximos da ribeira da Ocreza.

O minério era vendido às sociedades existentes à data mas também era desviado para o “contrabando” ou “candonga”, como então se dizia.

Diz o Manuel André que, ao princípio, o minério era comprado a oito escudos o quilo, mas na “candonga”, chegava a atingir os oitenta e cinco escudos.

Refere ainda o nosso interlocutor que os proprietários dos terrenos dividiam-nos em lotes que eram arrematados por grupos, famílias, e a seguir explorados pelos arrematantes.

Os grupos começaram por ser da Póvoa, mas rapidamente se estenderam às aldeias vizinhas: Tinalhas, Alcains, Lardosa, etc.

Todo este ambiente trouxe profundas alterações na nossa região: rixas, guerras entre povoações e levou ao abandono da agricultura.

Com o final da guerra, a exploração deixou de ter interesse económico e como prosaicamente diz o Manuel André, “quem o soube segurar, ganhou; quem não soube, voltou à pobreza do antigamente”.

O minério e a sua comercialização deram origem a uma profissão que aqui pela Póvoa não era conhecida: o contrabandista. Até à exploração do minério e à sua comercialização e consequente contrabando, havia só um homem na Póvoa que exercia esta profissão e que era conhecido por “Chico Vigário”, de alcunha. Dedicava-se ao contrabando entre Portugal e Espanha e vivia desta ocupação. Com o aparecimento do minério, também ele reorientou a sua actividade nesta direcção.

Como acima referimos, passados estes tempos difíceis da guerra, a vida retomou a sua rotina e os seus passos.

José Antunes Leitão

Fonte: http://www.reconquista.pt/noticia.asp?idEdicao=212&id=18277&idSeccao=2261&Action=noticia

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Lar da Póvoa pronto em quinze meses

Póvoa de Rio de Moinhos vai ter o seu lar concluído em meados de 2011. A garantia foi deixada pelo presidente da Câmara, na cerimónia de lançamento da primeira pedra da instituição.


Por: Cristina Mota Saraiva

23 de Dezembro de 2009 às 14:29h
A freguesia de Póvoa de Rio de Moinhos vai ter o seu Lar de Terceira Idade concluído dentro de 15 meses.

O dia 20 de Dezembro fica na história da localidade, como o dia do lançamento da primeira pedra do empreendimento, que contou com a presença do Bispo da Diocese e do presidente da Câmara de Castelo Branco.

Uma obra orçada em 750 mil euros e que dá resposta a uma estratégia estabelecida pela Câmara em criar estruturas sociais espalhadas pelo concelho. Os exemplos aí estão com as obras para as novas estruturas da APPACDM e para a Associação da Criança. Será criado, também, um Lar em Tinalhas.

Obra feitas em conjunto com outras instituições, nomeadamente a Segurança Social e as fábricas da Igreja, embora seja a autarquia a liderar os processos.

Mas, no caso do Lar da Terceira Idade de Póvoa de Rio de Moinhos a história vem de mais longe e é possível construir agora o Lar, graças ao Padre António Campos, como destacou a presidente da Junta, Lucinda Martins.

Em 1943 o padre fez um testamento com instruções precisas para que, quando morresse, fosse instalado um Asilo na sua casa.

“O Asilo Padre Campos como foi chamado iniciou as suas funções no ano de 1944 e manteve-se em funcionamento até ao ano de 1978. Este Asilo, à época, era sustentado economicamente pelo rendimento da quinta anexa à residência, também ela doada ao povo desta terra”, conta a autarca.

O asilo tornou-se uma mais-valia para a freguesia, uma vez que alargou as respostas sociais.

Só que no início dos anos 70, a instituição já não era sustentável, revela, ainda Lucinda Martins, e é por essa altura que aparece o Centro de Dia Social e Paroquial Padre Campos, com a preciosa intervenção de António Jorge.

Foi inaugurado em 1982 “e que tem desempenhado as respostas sociais para as quais foi criado, centro de dia, sob a direcção dos párocos desta freguesia”, adianta a presidente da Junta. Só que eram fundamentais respostas mais abrangentes, sobretudo um Centro de Noite. Isto porque, na localidade, há 211 pessoas, com mais de 65 anos, e dezoito delas estão em lares próximos, ou mesmo fora do concelho.

“Assim, e após várias diligências ao longo destes últimos quatro anos, foi finalmente possível criar a actual Associação, Centro Social dos Beneméritos de Póvoa de Rio de Moinhos. E só é possível estarmos aqui hoje a lançar esta 1.ª pedra graças à boa vontade e ajuda do Sr. Bispo da Diocese, D. Antonino, a quem este povo será eternamente grato por toda a sua generosidade”, frisa Lucinda Martins.

A presidente realçou, igualmente, a ajuda e empenho do presidente da Câmara, Joaquim Morão que, por seu lado, destacou que esta obra é feita com qualidade e já a pensar no futuro. Agora, para o autarca é necessário que “depois de construído o ponham a funcionar”, disse.

E acrescentou que a cerimónia marcava um grande passo “porque estamos a lançar a pedra do futuro para resolver os problemas”.

O Lar vai contar com 14 quartos, sete duplos e sete individuais, e 21 camas. No entanto, cinco dos individuais estão preparados para se transformarem em duplos, caso seja necessário.

Este foi um dia de grande festa para a freguesia. E depois do lançamento da primeira pedra do Lar, decorreu a Festa de Natal, que a Junta oferece à população. Um final de tarde animado e onde foram entregues presentes a 69 crianças.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Infantário recebe mil euros de livros

Póvoa de Rio de Moinhos vence “Pilhas de Livros” do Modelo

O jardim-de-infância de Póvoa de Rio de Moinhos foi um dos estabelecimentos premiado no âmbito da campanha “Pilhas de Livros”, um prémio que recebeu quinta-feira, dia 10 de Dezembro, no Modelo de Castelo Branco.

A educadora, que se fez acompanhar de duas crianças do infantário, reconheceu que esta “é uma excelente prenda de Natal, para reforçar a biblioteca escolar”.

Já Nuno Chaves, responsável do Modelo de Castelo Branco, reitera a importância desta iniciativa e a responsabilidade social da empresa que lhe está associada.

Foram mil euros em livros, todos do Plano Nacional de Leitura, que foram entregues a esta escola.

O Modelo, recorde-se, está a entregar um total de 120 mil euros em livros recomendados pelo Plano Nacional de Leitura do Ministério da Educação, num total de mais de 12.500 livros às escolas vencedoras do projecto Pilhas de Livros a nível nacional.

Este ano, a iniciativa contou com a participação de mais de cerca de 256 mil crianças, do pré-escolar ao 3º ciclo, que foram responsáveis pela recolha de três milhões de pilhas.

O objectivo do Projecto Pilhas de Livros é o de fomentar os hábitos de leitura dos mais novos, num programa associado à sensibilização de todos para a necessidade de reciclar as pilhas usadas.

“Ao mesmo tempo que enriquece as bibliotecas escolares, o Modelo está também a ajudar a que tenhamos um ambiente melhor”, conclui.


Fonte:http://www.reconquista.pt/noticia.asp?idEdicao=210&id=17949&idSeccao=2234&Action=noticia

Cala-te que podemos ir presos!

Quando, nos inícios dos anos 60, Benvinda Matos Pinto partiu para França, deixou para trás uma vida sem horizontes mas perdeu a vivência das muitas tradições que anualmente revigoravam e davam sentido ao viver colectivo da Póvoa.

Faz parte da dura faina do campo, a existência de alguns períodos de distracção para recuperar forças e esquecer as agruras da vida. Sempre assim foi ao longo dos tempos e assim continuará a ser.

Na Póvoa, desde tempos imemoriais que existem algumas festas religiosas normalmente seguidas das respectivas festas populares.

A ligação das festas religiosas aos divertimentos profanos nem sempre foi pacífica. Tempos houve em que a celebração religiosa era perfeitamente integrada nos divertimentos populares. Com o evoluir dos tempos, as autoridades religiosas começaram a separar uma coisa da outra e esta separação deu origem a muitas confusões e desentendimentos. Esses tempos passaram e hoje, podemos dizer que as festas já não são o que eram, apesar de continuarem a realizar-se.

A festa principal foi sempre a da Senhora da Encarnação. Tinha e tem lugar na Páscoa. Começava com as Alvíssaras. As pessoas deslocavam-se de madrugada à capela para cumprimentar a Senhora pela ressurreição do Filho. Havia missa, sermão e procissão à volta da capela. De tarde comiam-se as merendas debaixo dos sobreiros e a música tocava. À tarde regressava-se à povoação e o rancho era lindo de ver: as mulheres antigas tocavam o adufe, o povo cantava e o arraial dava continuidade, pela noite dentro, às diversões populares.

O mesmo ambiente festivo envolvia a romaria de Santa Águeda cuja capela primitiva foi alagada pela barragem.

No Natal era imprescindível o madeiro aceso, em frente à Igreja Matriz. Da organização do madeiro encarregavam-se os rapazes solteiros recolhendo e transportando alguns troncos fortes de sobreiro velho que os mais abastados ofereciam. As crianças também participavam: recolhiam as silvas das vedações velhas das hortas para atear a fogueira. Esta ardia por largos dias e noites, até se consumir toda a lenha.

No Verão também havia festa, a 15 de Agosto. A Senhora da Encarnação vinha à povoação trazida pelos homens no seu andor. Havia missa, procissão e à noite arraial. Ao princípio, na Praça e mais tarde no largo da Deveza. Esta festa congregou, durante os picos altos da emigração, todos os emigrantes de férias, contribuindo assim para os re-ligar aos seus lugares e famílias de origem.

Escusado será dizer que no Carnaval também havia alguns divertimentos. Castigavam-se com censura pública algumas figuras que sobressaíam no povo pelos pecados mais comuns: uma velhota ou velhote que bebiam uns copitos a mais ou um ou outro caso de suspeitas de amores fora das normas.

Alguém reunia a criançada, cada um com seu chocalho e eram as célebres “chocalhadas” públicas às portas do criticado.

Às vezes apareciam uns pequenos grupos de saltimbancos vindos não se sabe de onde, com o intuito de recolher uns tostões ou qualquer coisa que matasse a fome. Com uma caixa de música, uma corneta, um cantor e um habilidoso, improvisava-se um espectáculo. As quadras cantadas eram quadras populares e, por vezes, o sarcasmo e a ironia faziam a sua graça. Lembro-me de ter ouvido, um dia, os saltimbancos cantarem:

Santa Comba por destino/ Fica mesmo em Portugal/ Á beira da Oliveira/ Oliveira do Hospital.

Oliveira do Hospital/ Que os doentes não ilude/ Que afinal é Oliveira/ Que nos trata da saúde.

Eu era uma criança e lembro-me de ter ido para casa contar à minha mãe o que ouvira dos palhaços. Logo ela me disse:

-Cala-te que isso é contra o Governo e podemos ir presos.

Como se vê a ironia era fina.

Da saúde ninguém tratava e as epidemias de febre tifóide e outras, rondavam frequentemente as famílias. Tratar da saúde tinha um segundo sentido, como facilmente se pode imaginar.

Na próxima crónica daremos uma ideia do que foi, poucos anos antes de começar a atracção pela Europa, o sonho de vida melhor experimentado com a exploração do minério durante a Guerra.

José Antunes Leitão


Fonte: http://www.reconquista.pt/noticia.asp?idEdicao=210&id=17980&idSeccao=2233&Action=noticia

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Em Janeiro de 1963 emigrei para França

A narrativa que hoje apresento retrata, em breves palavras, momentos importantes da vida de uma nossa conterrânea. Estou certa de que alguns dos senhores leitores, em particular os desta geração, reconhecerão na história da Dona Benvinda Matos Pinto talvez a sua própria história. Ela, que na aldeia foi pioneira na aventura de construir uma vida lá fora, mais propriamente em França, iniciou um novo ciclo de emigração dos habitantes desta terra.

Decorriam os anos sessenta. A lida da maioria dos homens e das mulheres ainda se fazia no campo, no entanto para além das costureiras, ferreiros, merceeiros, sapateiros, pastores e demais ofícios, alguns, na verdade poucos, conseguiram empregar-se na cidade ou na vila de Alcains. Precisamente aí laborava a Dona Benvinda, na leitaria dessa localidade, onde auferia, como salário semanal, a quantia de noventa e sete escudos.

Foi neste local que conheceu um engenheiro casado com uma senhora de origem francesa. Esta ‘Madame’ viria a convidar a nossa protagonista de hoje, para servir na sua casa e cuidar dos seus filhos, em França. Assim, em Janeiro de 1963, contrariando a vontade de sua mãe, Dona Benvinda rumou a Paris. A viagem fez-se de comboio. Na mala seguiam alguma ansiedade, muitas expectativas e, também, um passaporte de turista. Tempos depois, por intermédio dos seus patrões, tornou-se uma cidadã legal naquele país. Passados cerca de dois anos, conheceu aquele que viria a ser o seu marido pelo que, após o matrimónio, alugou uma pequena casa numa localidade próxima da capital francesa.

Apesar dos enormes obstáculos da língua, da difícil adaptação ao estilo de vida daquelas gentes e do afastamento da família, reconhece agora, ter sido uma afortunada, uma abençoada, por facilidades que minimizaram alguns sofrimentos.

A mesma sorte, porém, não coube a muitos homens e mulheres que, nos anos seguintes, tentaram alcançar as fronteiras desse país onde a vida era, naquele tempo, bem melhor. Nessa década, seguiram para França várias dezenas de pessoas da nossa aldeia, calcula-se que mais de cinquenta. Alguns iam com carta de chamada, sabiam portanto que a viagem se faria sem medos e que uma vez chegados ao seu destino, teriam abrigo, trabalho e alguém que os orientasse. No entanto, muitos outros incorreram em perigos enormes para finalmente alcançarem o El Dorado tão desejado. Quantos homens e mulheres se aventuraram pelas densas serras onde foram guiados por passadores! Estes passadores ou contrabandistas geriam, então, um negócio lucrativo. Por seis, sete e oito contos de réis, acompanhavam os aventureiros até à fronteira do país vizinho, onde homónimos espanhóis os esperavam, se lhes cabia a sorte de combinarem o trato com um passador sério. Já os passadores desonestos, após receberem o combinado, é bom de ver, abandonavam os coitados nas serras entregues à sua própria sorte, vagueando perdidos durante semanas e semanas, correndo, entre outros riscos, o de serem descobertos por guardas portugueses ou espanhóis que por vezes os espancavam sem dó nem piedade. Quem recorda esta experiência diz ser impossível esquecer a noite em que cruzaram a fronteira. Relatam episódios de longas caminhadas, boleias de camionistas ou de compadecidos condutores de carrinhas de caixa aberta, onde lhes era permitido viajar escondidos por entre a mercadoria.

Mas, como é sabido, a sorte protege os audazes e, felizmente, por lá vingaram todos os que procuraram esse destino. Os anos foram passando e os emigrantes trouxeram as novidades de além fronteiras. Estas espelharam-se nas roupas, nos carros e até nas casas que construíram. Os franceses, como passaram a ser chamados, enchiam de cor e animação os meses quentes que aproveitavam para matar saudades da família.

O mesmo sucedeu com a Dona Benvinda, que durante mais de quarenta anos voltou à sua aldeia natal. Regressou definitivamente em 2002, deixando em Maison Laffitte, dois filhos e uma casa própria da qual desfruta por alguns meses, sempre que a vontade lhe pede.

As vivências passadas naquele país permanecerão, para sempre na sua pessoa. O balanço é positivo. Valeu e muito a pena ter emigrado.

Célia Freire da Cruz

Fonte: http://www.reconquista.pt/noticia.asp?idEdicao=208&id=17737&idSeccao=2207&Action=noticia

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Uma família da Póvoa de Rio de Moinhos em Santos (Brasil)

Deixar a Póvoa diminuiu nosso tempo de vida

Meus bisavós José dos Santos Silva e Maria Rita, naturais da Póvoa de Rio de Moinhos, imigraram para o Brasil e desembarcaram na cidade portuária de Santos, no Estado de São Paulo, em 07.10.1912. José foi trabalhador portuário na Cia. Docas de Santos, enquanto Maria Rita ocupava-se dos serviços domésticos de seu lar. Consigo trouxeram Abrahão, também natural da Póvoa de Rio de Moinhos, nascido em 08.12.1911. Abrahão era o meu avô paterno.

José, Maria Rita e Abrahão não vieram sós. Vieram com eles alguns primos e alguns anos mais tarde vieram José Martins e Maria Joaquina (irmã da Maria Rita). José Martins era primo em primeiro grau de Maria Joaquina, mas acabaram por se casar em Santos. José Martins, como seu primo José dos Santos Silva, foi trabalhador portuário.

Meus bisavós tiveram mais quatro filhos aqui no Brasil: Maria Rosa, Ermínia, Felícia e Ernesto. Com exceção de Ernesto, os outros nomes são típicos da Póvoa. Ernesto parece-me já uma influência bem paulista.

Meu avô Abrahão participou da Guerra Paulista de 1932 como soldado voluntário e mais tarde tornou-se também um trabalhador portuário.

Os membros da primeira geração de minha família da Póvoa trabalharam duro no cais do porto. A segunda geração foi mais bem preparada e a maioria ocupou-se de serviços administrativos. Meu pai era técnico em contabilidade. Os descendentes da terceira e quarta gerações estudaram ainda mais. Hoje há professores, advogados, engenheiros e cientistas.

Abrahão, como todo mundo, tem 16 trisavós: nove são naturais da Póvoa, três de Alcains, dois de Escalos de Baixo, um de Castelo Branco e um da Lardosa. Conheço cerca de 1360 antepassados de meu avô Abrahão, ao longo de 17 gerações. Entre os que nasceram no Concelho de Castelo Branco, a maioria nasceu na Póvoa: 36,4 por cento.

Pelo lado de seu pai, Abrahão descende dos Costas Riscados e dos Goulões de Alcains. Também descende dos Francos, dos Folgados e dos Benesperas, entre outras famílias da Póvoa. Pelo lado de sua mãe, descende dos Pratas e dos Saraivas, da Póvoa.

A Póvoa de Rio de Moinhos é uma aldeia. Basta que uma família tenha vivido na Póvoa por algumas gerações e ela terá profundas ligações familiares com todas as outras famílias. Isto significa que temos dezenas de antepassados em comum. Com exceções, é claro, todos lá são parentes.

Finalizo com uma curiosidade. Meu bisavô José dos Santos Silva deixou na Póvoa de Rio de Moinhos uma irmã: Maria Augusta Folgado. Meu bisavô teve cinco filhos enquanto que Maria Augusta Folgado teve oito. O tempo médio de vida dos filhos de José aqui no Brasil foi algo em torno de 70 anos ao passo que o tempo médio de vida dos filhos da Maria Augusta é de 90 ou mais anos. Não há aqui no Brasil nenhum filho de José ainda vivo. A maioria dos filhos da Maria Augusta ainda vive. Meu avô Abrahão nasceu em 1911. Sua prima em primeiro grau, Dona Isabel Folgado, nascida em 1912 está viva e muito bem, graças a Deus. Creio que deixar a Póvoa diminuiu nosso tempo de vida!

Lourval dos Santos Silva

Fonte:http://www.reconquista.pt/noticia.asp?idEdicao=206&id=17408&idSeccao=2181&Action=noticia

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Josephine Addison: a "nossa" imigrante

Conhecida por todos os habitantes da nossa terra e carinhosamente apelidada de ‘Inglesa’, o artigo de hoje é-lhe inteiramente dedicado, a ela, que adoptou a nossa pátria como sua, aqui fazendo vida, há mais de dez anos.

Cumprindo o ritual de homenagear os que daqui foram e os que aqui chegaram, vamos conhecer Josephine Mary Addison, a ‘Inglesa’, que muito nos surpreendeu. Agora é, pois, a sua vez.

Nasceu em Inglaterra, em 1928, no condado de Yorkshire, uma provícia no norte de Inglaterra. Iniciou a sua vida laboral, com apenas 16 anos, como desenhadora, num escritório de Engenharia. Apaixonada pelos números, licenciou-se em Matemática, mas não quis, nessa altura, seguir a via do ensino.

Em 1955, alistou-se no exército, tornando-se uma das primeiras mulheres a fazê-lo, em Inglaterra. Esteve ao serviço, na unidade de Engenharia Electromecânica, durante três anos.

Seguiu-se um período de dois anos, em Gibraltar, local onde trabalhou, num escritório, e viveu uma vida social intensa, facto que a encantava, mas era insuficiente para se realizar profissionalmente.

Voltou, então, para Inglaterra onde, em Londres, num colégio privado, com grande diversidade cultural, leccionou Engenharia Mecânica pela primeira vez. Certo dia, é abordada por um aluno chinês que lhe sugere que se candidate a um lugar de professora, num Instituto Politécnico de Singapura. Este foi um dos sonhos que Josephine iria, em breve, concretizar, pois tinha fascínio pela cultura oriental.

Singapura, onde leccionou por um período de três anos e meio, permitiu-lhe aventurar-se à descoberta de vários países, como a Tailândia, Hong Kong, Sri Lanka, Bornéu, Afeganistão, Paquistão, India, entre outros. Conheceu e atravesssou cada país em transportes públicos, o que lhe possibilitou um contacto muito próximo com as pessoas e, consequentemente, com a cultura que elas representam.

Em 1965 regressa a Inglaterra por meia dúzia de anos. Volta ao ensino, em Londres e na Escócia, tira o curso de Engenharia Civil e trabalha durante um ano numa Câmara Municipal.

Uma vez mais o Médio Oriente atrai Josephine, que viaja, para Hong Kong, onde lecciona até aos 60 anos, altura em que legalmente se deveria aposentar, perspectiva que não agradava à nossa protagonista de hoje.

Inicia imediatamente uma busca de emprego nos jornais e encontra, aquele que seria o último emprego da sua vida laboral: professora, na Universidade de Macau, durante dez anos.

Em 1992 decide visitar o nosso país. Portugal já lhe tinha despertado antes algum interesse especialmente por considerar que aqui poderia adquirir uma habitação própria mais facilmente do que na sua terra natal. Em Faro, aluga um carro e vai caminhando rumo a Norte até chegar a Castelo Branco, numa certa noite de Setembro.

No dia seguinte, descobre, numa imobiliária, aquela que seria a sua residência actual, uma casa na nossa aldeia, lugar onde poderia viver a sua vida, tendo por companhia os seus fiéis amigos. Abandona definitivamente Macau em 1998 e desde então, Josephine vive, na Póvoa de Rio de Moinhos, com os seus cães, que trata e estima de uma forma admirável.

Do nosso país, aprecia o clima, os bons vinhos, que cá se produzem, a simpatia e a simplicidade das pessoas. Confessa que a barreira da língua nem sempre foi um aspecto fácil de ultrapassar, contudo, frequentou aulas de língua portuguesa e, passados mais de dez anos, domina, curiosamente melhor a escrita que a oralidade.

Os seus dias são repartidos entre as lides domésticas e os longos passeios, com os seus cães, ritual que cumpre diariamente. Lamenta o facto de ter sentido de perto a falta de respeito e cuidado pelos animais. Com imensa tristeza e alguma revolta afirma que já perdeu treze dos seus leais amigos por envenenamento, especialmente quando o passeio acontece para a zona norte da aldeia. Ocasionalmente acontecem algumas saídas, até à cidade, e, por vezes, janta com uma amiga, que conheceu aqui, amizade esta que cultiva desde essa altura. Gosta de ler, de ouvir música e confessa-se apaixonada por jogos de computador, que usa também, para se manter ligada ao mundo e aos familiares que vivem em Inglaterra. Detesta ter que lidar com a burocracia, que lhe é imposta, quando, mesmo para resolver assuntos simples, se vê subjugada à tão típica montanha de formulários! Confessa que gostaria de ser útil à comunidade, o que não acontece tanto como desejava, por ainda persistir alguma dificuldade na oralidade, não fossem as nossas “vogais de todas as cores e feitios!”

Lamenta nunca ter exercido a sua verdadeira paixão, a Engenharia Civil, e talvez seja essa a razão pela qual acompanha de perto e reconhece as mudanças verificadas nas casas que recuperámos e construímos. Aprecia a renovação e confessa gostar de mudanças e de decoração, outro dos seus interesses manifestado, ao referir as “ lovely houses” da aldeia.

Voltou à sua Inglaterra para visitar a família que, anos mais tarde, lhe devolveu a visita na nossa terra.

Josephine Mary Addison conta hoje 80 anos. Esta senhora, de forte carisma, nunca deixou de superar as adversidades. Conheceu e viveu de perto outras culturas muito diferentes da nossa. Adaptou-se e hoje vive de forma tranquila na Póvoa de Rio de Moinhos.

Nós, que temos um considerável historial de emigração, consideramos, e muito, a ‘nossa’ imigrante de estimação.

Célia Freire da Cruz


Fonte: http://www.reconquista.pt/noticia.asp?idEdicao=204&id=17213&idSeccao=2156&Action=noticia

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A vida no tempo dos nossos avós

Já vimos como era a vida dos moleiros e dos pastores em Póvoa de Rio de Moinhos. Nesta freguesia rural, do interior, a maioria das pessoas vivia do campo e do que ele produzia.

A Póvoa está rodeada de um labirinto de quelhas, em pedra, que ladeiam caminhos que levam às hortas.Quase todas as famílias tinham uma horta onde cultivavam couves e alfaces, feijão, cebolas e batatas, religiosamente guardadas para no Inverno poderem sobreviver. Estas quelhas que levam às hortas deviam ser preservadas, mas a pouco e pouco estão a ser destruídas. No tempo da apanha da azeitona organizavam-se ‘camaradas’, conjunto de homens e mulheres que trabalhavam para as casas grandes: José da Fonseca, Martinho Dias, D.Antónia, etc.

A partir da primavera e sobretudo no tempo das colheitas, um rancho de mulheres, as ‘terceiras’, trabalhavam também para aquelas casas. Chamavam-se assim, porque recebiam um terço das colheitas (milho, feijão, etc). No verão ouviam-se os cantares nas eiras, por altura das desfolhadas do milho e do malhar do feijão.

As pequenas hortas, era preciso regá-las, por causa do calor que tudo secava. A água dos poços era tirada à picota, com um caldeiro. Quando o verão era muito sêco, até o chafariz secava e era preciso acumular a água do poço, de mergulho, ao lado da bica, para ter água para beber em casa.

Havia algumas profissões que resolviam os problemas quotidianos.

O tio Zé Lino era ferreiro e a sua forja ficava no fundo da Quelhinha do Reduto, nome que lembra qualquer lugar do antigamente onde, em caso de perigo, a população teria que recolher-se e defender-se. Na forja, eram afiadas as ferramentas da agricultura: picaretas, sachos e outros. Este homem vivia numa casa próximo da forja, que ainda hoje ostenta numa janela, uma pedra com a seguinte inscrição: “No ano de 1575 vale o pão a cruzado” . Para registar este facto, era porque o valor era alto e quem o fez, pretendia chamar a atenção dos vindouros, para a carestia da vida e a pouca comida que nem a todos chegava.

O tio António Domingos era pedreiro. Eu diria que era mais escultor que pedreiro: deixou-nos uma jóia feita por si, que é o escudo que está por cima da entrada principal da escola primária.

O barbeiro, cortava o cabelo e as barbas, mas também arrancava dentes. Dava injecções e também curava feridas ligeiras.

Quando chegava a altura das vindimas, durante o mês de Setembro, conforme os anos, era necessário preparar as vasilhas para receber o vinho. O Chapoula sempre foi uma figura emblemática da Póvoa. Era ele que preparava as dornas, os pipos e outros artefactos necessários à fabricação do vinho. Era inclinado aos copos e quando estava com eles, entrava em delírio. Como tinha sido militar em Coimbra percorria as ruas a fazer discursos que terminavam sempre assim: “General de Coimbra, ó clarim, toca a formar”. Discursava bem e quando havia procissões, lá ía ele também a fazer discursos. Um dia fez tantas ou tão poucas na procissão, que o sacristão teve de o fechar na torre da Igreja. Não reparou o sacristão que lá dentro havia uma escada das da azeitona. O Chapoula viu logo o furo: agarrou nela, pulou para a plataforma do sino, saiu para a rua pela porta da Igreja. Quando todos caminhavam devotamente na procissão, lá apareceu ele outra vez.

Sempre que se aproximava a época das vindimas, deixava de beber e resolvia a maior parte dos problemas dos seus clientes.

A roupa doméstica era lavada nas ribeiras e posta a corar ao sol, que substituia os detergentes. O sol quente de Julho e Agosto queimava, mas como me referiu um velho, “ dizem que o sol queima/ mas o sol dá linda côr/ nunca vi criar à sombra/ coisa de grande valor”. Também ele entrava na rotina do crescimento da natureza.

Além do Padre e do Professor havia também o Regedor, para manter a autoridade e a ordem. Às vezes havia a sua zaragata e uns copitos a mais não davam bom resultado. Os homens, no Domingo, jogavam “às malhas”. Duas equipas tentavam derrubar os pinos postos a alguma distância. Quem mais pontuasse, ganhava. Tudo terminava na taberna, para brindar à saúde dos que ganhavam e dos que perdiam. Havia duas ou três tabernas, lugar de encontro e troca de informaçôes sobre a vida da aldeia. Assim corria a vida no tempo dos nossos avós.

Para alguns, contudo, a vida não era fácil e para esses a solução encontrava-se na emigração.

José Antunes Leitão


Fonte: http://www.reconquista.pt/noticia.asp?idEdicao=202&id=16972&idSeccao=2129&Action=noticia

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

As capelas de S. Sebastião e de Nossa Senhora da Conceição

Na ronda dos templos situados no próprio núcleo urbano e que, ao longo dos séculos, foram objecto de culto pelas gentes da Póvoa, resta-nos referir a capela de S. Sebastião e a de Nossa Senhora da Conceição.

A primeira, a de S. Sebastião, é certamente muito antiga e insere-se na devoção, de forte tradição na cristandade ocidental, dos fiéis se entregarem à protecção deste militar, santo e mártir, nas situações de maior calamidade colectiva – nas de fome, de peste ou de guerra. Como era costume, e a comprovam as palavras do padre-cura de 1758 informando que “era contígua ao povo”, a capela erguia-se como uma guarda avançada à entrada da povoação assinalando-nos, hoje, os seus limites de então. Podia qualquer outro cura dizer, em 1819, como havia uma confraria de evocação do seu nome (registada na documentação da Câmara Eclesiástica do Bispado de Castelo Branco) que administrava um foro com um rendimento de 35 réis, além de haver ainda a designação “Chão do Santo” identificativa de bens fundiários que lhe pertenciam.

Podia também algum dos párocos testemunhar que, em finais do século XIX e inícios do XX, persistia na comunidade a inegável popularidade do santo, revelada na linguagem corrente pela substituição do nome oficial de Rua de S. Sebastião por “Rua do Mártir “. Hoje, S. Sebastião, é a capela mortuária onde famílias e vizinhos se encontram para prestar as últimas homenagens aos seus e é ainda nela que se guarda a imagem que nas procissões é colocada num andor e transportada ao longo do percurso, por promessa ou simples devoção, por grupos inteiramente femininos.

A segunda, a capela privada de Nossa Senhora da Conceição, insere-se numa outra tradição também ela cara aos Portugueses. Remonta, com probabilidade, aos inícios da nacionalidade e, com certeza, à devoção a Nossa Senhora por parte do Santo Contestável Nuno de Santa Maria e seus descendentes, os duques de Bragança que, no século XVII, a proclamaram Padroeira da Nação Portuguesa. Esta nossa da Póvoa, que vem referida na obra Culto Marial da Diocese de Portalegre citada pelo Padre José do Vale Carvalheira, “Nossa Senhora na História e na Devoção do Povo Português”, remete para a definição do dogma da Imaculada Conceição pelo papa Pio IX. A proclamação, em 8 de Dezembro de 1854, despoletou um movimento devocional mariano em que se pode incluir a consagração da Capela.

Anteriormente, em 1818, o juiz desembargador Alexandre Duarte Marques Carrilho, natural de Póvoa de Rio de Moinhos e ligado por laços matrimoniais à família Silva Castel-Branco, obtivera autorização para instituir um oratório na sua casa da Rua do Santo. Esta residência foi perdendo o estatuto de casa principal da família que, entretanto, preferira a Rua do Fundo, Em meados do século, nas vésperas da ordenação de um dos filhos da casa, António Luciano da Fonseca, este recebe dos pais, entre outros bens para constituir património, parte de “umas casas na Rua do Fundo”. Em 1874, já habilitado com ordens sacras, o referido Padre António Luciano da Fonseca, pede ao vigário-geral do bispado de Castelo Branco que delegue no reverendo pároco da freguesia autorização para a benção da capela que edificou junto da casa de sua residência e dedicada à Virgem Santíssima Nossa Senhora da Conceição.

A Capela, que passou para os descendentes do seu irmão, Francisco António da Fonseca Castel-Branco, teve capelão privativo e missa dominical até meados da década de 1960 e (privilégio raro) o Santíssimo Sacramento até Fevereiro de 1969. Nela decorreram actos religiosos de grande significado não só para a família sua proprietária mas também para o conjunto das pessoas da terra. Como exemplo pode referir-se uma saída de procissão nocturna do Lausperene em direcção à Igreja Matriz. Foi, em 17 de Março de 1957, noticiada pela Reconquista que salienta a beleza do percurso enfeitado com verduras e iluminado pelas velas dos fiéis.

Benedicta Maria Duque


Fonte: http://www.reconquista.pt/noticia.asp?idEdicao=198&id=16450&idSeccao=2074&Action=noticia

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O Santuário da Senhora da Encarnação

Não investiguei ainda as origens da capela da Senhora da Encarnação. Quem eventualmente conhecer outros elementos sobre ela, agradeço que me faça chegar as respectivas informações.

Hoje gostaria apenas de comentar, as referências que da dita capela constam do livro “Santuário Mariano”. História das imagens milagrosamente aparecidas, que se veneram nos bispados da Guarda, Lamego, Leiria e Portalegre.

É seu autor Frei Agostinho de Santa Maria, nascido em Estremoz, 1642. Professou na Ordem dos Agostinhos Descalços em 1664. Usou no mundo o nome de Manuel Gomes Freire e era filho de António Pereira e Catarina Gomes.

Compôs diversas obras originais, sendo o “Santuário Mariano” uma das mais conhecidas e traduziu outras do latim.

Aqui reuniu um sem fim de notícias sobre o culto de N. Senhora em Portugal, na Índia, em África, Brasil e Filipinas.

As notícias recolhidas neste livro têm muito de fantasioso mas, por outro lado, dão-nos descrições interessantes dos locais a que se referem. Assim acontece no caso da Senhora da Encarnação. Diz a certa altura: “Entre os lugares de Póvoa e Tinalhas, termo da Vila de S.Vicente da Beira, à distância de duas léguas da mesma vila, se vê o Santuário milagroso da Senhora da Encarnação, aonde todos aqueles povos concorrem, com grande devoção e frequência, a venerar uma milagrosa imagem da Mãe de Deus, que com o título deste soberano mistério, é naquela casa referenciado, pelo qual o poder divino obra muitos milagres e maravilhas”.

Acrescenta que fez todas as diligências junto do Pároco, Padre Martinho Gonçalves Torrão, para saber as origens da Imagem, sem que tal tenha acontecido.

Refere ainda que a capela tinha muitos quadros antigos, testemunhando milagres alcançados pelas pessoas que aqui acorriam.

Mais adiante acrescenta: “É esta imagem de roca e vestidos, tem cinco palmos de estatura, o meio corpo é de madeira com braços de engonço e está com as mãos levantadas mas é de grande magestade e soberania e assim infunde não só grande respeito, mas muita vocação.

A ermida, acrescenta ainda, fica situada em um alegre e delicioso lugar, cercado de vinhas e pomares. Tem ermitão que cuida dos asseio e ornato do seu altar e tem casas de romagem onde os devotos da Senhora vão a ter as suas novenas”. Termina dizendo que “são Padroeiros da Casa da Senhora da Encarnação, os moradores do lugar da Póvoa, donde dista pouco mais de dois tiros de mosquete. E eles são os que apresentam o Capelão e o Ermitão.

Festejam a Senhora da Encarnação na segunda oitava da Páscoa da Ressurreição, com missa cantada e sermão e este dia é de muito grande concurso das romagens.

Aqui temos um quadro descritivo do que foi a capela da Senhora da Encarnação e o seu ambiente no tempo de Frei Agostinho de Santa Maria.

Hoje, com o abandono dos campos e das tradições religiosas e populares que acompanhavam o mundo rural, podemos verificar como as coisas estão diferentes.

Restam-nos uma celebração religiosa por alturas da Páscoa e ainda, até há bem pouco tempo, um costume local de “dar as alvíssaras à Senhora” na madrugada da Ressurreição, uma Aleluia bem popular.

Teve esta capela alguma concorrência mais forte nos tempos em que os emigrantes espalhados pela Europa vinham passar à sua Terra Natal, as férias de Verão. Hoje, é num ambiente diferente que se realiza ainda a romagem da Páscoa, seguida da Procissão e merendas debaixo das sobreiras que rodeiam o local.

Nota: Os dados acima referidos constam do livro intitulado “Santuário Mariano” de Frei A. de Santa Maria, Tomo III, pág63-65. Editado em Lisboa em 1711, na oficina de António Pedroso Galrame.

José Antunes Leitão

Fonte: http://www.reconquista.pt/noticia.asp?idEdicao=196&id=16120&idSeccao=2047&Action=noticia

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A Irmandade das Almas

Pelas informações colhidas nas Memórias Paroquiais pombalinas de 1758, referidas na peça anterior, verificámos que a Póvoa de Rio de Moinhos, nesta data, tinha duas irmandades: “uma do Senhor e outra das Almas”.

É desta última que queremos dar conta, inserindo-a na devoção às Almas do Purgatório, muito querida nesta tão antiga povoação, certamente revitalizada pela reforma tridentina.

Recorde-se que o concílio de Trento, no séc. XVI, ao definir a doutrina do Purgatório, proclamou a sua existência, acrescentando que as almas ali retidas, podem ser ajudadas pelo sufrágio dos fiéis. Deste modo, ordenou-se aos bispos conciliares que esta devoção fosse acreditada, mantida e ensinada em toda a cristandade.

Relativamente às irmandades medievais, como sabemos, era uma forma de organização para fomentar a solidariedade social. Tanto cuidavam dos vivos, como zelavam pelos defuntos. Para objecto do nosso estudo, focaremos apenas o segundo aspecto.

A relação entre os vivos e os mortos, segundo a fé dos fiéis, não termina com o falecimento das pessoas da comunidade. Estas continuam bem próximas, até quase fisicamente, dado que os cemitérios eram em redor das igrejas ou mesmo dentro delas, até ao séc. XIX.

Se a Irmandade das Almas da Póvoa já é constatada em 1758, nada sabemos ao certo da data do seu início. Mesmo a documentação hoje guardada na igreja matriz de S. Lourenço, apenas nos esclarece, acerca da sua vida, a partir de 1859, faz agora 150 anos.

Pelos dados apurados nos dois livros da Irmandade, consultados na igreja matriz, ficamos a saber que havia uma jóia de 600 réis para a adesão e uma quota anual de 50 réis.

Os Irmãos atingiam nesta altura, meados do séc. XIX, as três dezenas. No início do séc. XX, este número subiria para as seis dezenas, atingindo a quota anual, dois escudos. Este valor manteve-se praticamente inalterado até que, em 1977, foi elevado para os cinco escudos. Só que, nesta altura, o número de irmãos já era escasso, apenas três dezenas. A Irmandade foi assim perdendo fôlego, vindo mesmo a extinguir-se em finais da década de setenta. Nos últimos anos, já eram os párocos que ainda iam tentando manter os poucos Irmãos, chegando a ter de executar a cobrança das quotas.

Seja como tenha sido, a Irmandade, enquanto existiu, procurou desenvolver algumas actividades relacionadas com o sufrágio pelos Irmãos falecidos e ainda pelas Almas do Purgatório. Assim, nos primeiros Domingos do mês, a “Missa das Almas”, às oito horas da manhã, era celebrada por intenção dos Irmãos falecidos. Por altura da Quaresma, a Irmandade mandava celebrar um “Ofício” pelas almas, ficando a seu cargo as despesas do mesmo. Além das quotas do Irmãos, encontrava-se na igreja Matriz uma “Caixa das Almas”, cujo produto revertia para o mesmo fim. Com as contribuições ainda hoje aqui depositadas, se celebraram cinco missas neste ano. No fundo, trata-se de uma continuação informal das antiga Irmandade.

A Confraria das Almas da Póvoa, como era habitual, possuía a sua Bandeira, ostentada nos funerais dos Irmãos falecidos, pintada com gosto muito popular nas duas faces. Numa, encontra-se a figura de S. Miguel, com a balança e as Almas do Purgatório, rogando a seus pés. Na outra, uma Pietá. Cristo morto, envolvido no regaço de Maria. Depois de recuperada e restaurada pelo actual pároco, padre José Varão, esta bandeira encontra-se hoje emoldurada nas paredes laterais do interior da Matriz.

A Irmandade zelava ainda pelo Nicho das Almas que se encontra na estrada principal, na entrada da povoação, a seguir à ponte do rio. Trata-se de um belo oratório em granito, incrustado num muro, ostentando por cima uma rendilhada cruz de ferro forjado. No interior do nicho, um azulejo policromado de Nossa Senhora do Carmo, com túnica castanha e manto amarelo. O Menino está vestido de rosa e ostenta, com Nossa Senhora, um escapulário.

Outra iniciativa quaresmal, desenvolvida pela Irmandade das Almas, consiste no cantar da Encomendação das Almas, ao longo da quadra quaresmal.

Segundo a tradição, este ritual inicia-se na primeira sexta-feira da Quaresma e canta-se no mesmo dia da semana, até à Sexta - Feira Santa.

Esta iniciativa ainda hoje é mantida, graças à participação de um grupo de senhoras, formado por Maria Carolina Barata, 1ª voz, acompanhada por Virgínia Freire Pinto, as irmãs Maria dos Anjos e Amélia Martinho e ainda Maria de Fátima Barata Duarte e Emília Marques. Este ritual inicia-se às onze horas da noite, junto ao cruzeiro da igreja, percorrendo de seguida alguns lugares mais altos da freguesia, como o Largo da Praça, a rua da Fonte, a rua das Escadas do Outeiro...

Este cântico começa pela seguinte súplica:

“Eu vos peço, oh Irmãos meus/ Um Pai Nosso e uma Avé - Maria/ Pelas Almas do Purgatório/Pelo Divino amor de Deus”.

Esta Encomendação, a caixa das almas da igreja e as missas celebradas por intenção das mesmas, prolongam ainda hoje, embora de um modo informal, o essencial da Irmandade que era manter os laços de solidariedade entre os vivos e os seus entes queridos, já falecidos.

Florentino Beirão


Fonte: http://www.reconquista.pt/noticia.asp?idEdicao=194&id=15877&idSeccao=2020&Action=noticia

sábado, 22 de agosto de 2009

Summer Fest


Artur Patuleia - 910309762
João Lourenço - 963356751

Fonte: digualgação pedida por JS - Federação Distrital de Castelo Branco.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A Igreja Paroquial

A Igreja da Póvoa nasceu da divisão da paróquia medieval de S. Vicente, cuja área coincidia inicialmente com a do concelho. Desconhecemos a data em que foi criada, mas sabemos seguramente ter sido antes do reinado de D. João II (1481-1495).

Em 1709, o vigário de S. Vicente registou, por escrito, os usos e costumes da Igreja Matriz de S. Vicente da Beira (1). Escreveu que, segundo uns autos de visita realizada à igreja de S. Vicente, em 1539, «Na Póvoa de Rio de Moinhos, havia um capelão posto alternativamente pelo comendador e prior, com obrigação de dizer missa aos domingos e festas e administrar os sacramentos.» O mesmo documento informa que essa situação já vinha do tempo de D. João II.

O comendador referido era o da comenda de Ordem de Avis, existente no concelho de S. Vicente da Beira desde a Idade Média e com vastas propriedades na Póvoa. O prior era o do mosteiro de S. Jorge de Coimbra.

Os produtos devidos à Igreja, que resultavam sobretudo do pagamento da dízima, eram armazenados, num lugar chamado tulha, e divididos em três partes: uma para o bispo da Guarda, outra para o comendador de Avis e a terceira para o prior de S. Jorge. Era com estes bens que o comendador e o prior pagavam o cura da Póvoa e as despesas da Igreja.

Mais tarde, extinguiu-se o priorado de S. Jorge e dos seus bens fez-se uma nova comenda, a da Ordem de Cristo, com a incumbência de satisfazer as obrigações anteriormente confiadas ao prior.

Em 1758, nas Memórias Paroquiais (2), o cura Manuel Rodrigues Malha informou que «O pároco é cura anual apresentado um ano pelo comendador e outro ano pelo vigário de São Vicente da Beira. Tem de porção trinta e sete alqueires e meio de centeio e quatro de trigo, quatro almudes de vinho, sete mil e quinhentos réis em dinheiro e a cera necessária para todo o ano.»

O comendador era o de Avis e o vigário de S. Vicente, escolhido pela Ordem de Cristo, desempenhava a função de nomear o cura, em representação desta ordem.

O Padre Manuel Rodrigues Malha também descreveu a Igreja da Póvoa, que se situava fora do povo, mas contígua a ele. O orago era São Lourenço e o templo tinha três altares: o altar-mor e dois laterais, um de Nossa Senhora do Rosário e outro do Santo Nome de Deus. Havia duas irmandades, uma do Senhor e outra das Almas.

Quanto às ermidas, o cura informou: «Tem três ermidas, uma de Santo Sebastião, contígua ao povo, outra de Nossa Senhora da Encarnação, distante do povo um tiro de bala, outra de Santa Águeda, distante meia légua. A de Nossa Senhora da Encarnação é frequentada de romagem todo o ano e a de Santa Águeda no seu dia. A da Senhora da Encarnação é apresentada pelos oficiais da câmara deste povo e a de Santa Águeda pelo ordinário.»

As capelas de Santa Águeda e de Nossa Senhora da Encarnação eram zeladas por ermitões, mas esta pertencia à Câmara, enquanto a primeira era administrada pelo cura, em representação do bispo da diocese.

(1) ANTT, Registos Paroquiais, S. Vicente da Beira, Óbitos, livro 1, fólios 4-9v.

(2) ANTT, Memórias Paroquiais, Póvoa de Rio de Moinhos, volume 30, fólios 1875-1878.

José Teodoro Prata

Fonte: http://www.reconquista.pt/noticia.asp?idEdicao=192&id=15702&idSeccao=1994&Action=noticia

sábado, 8 de agosto de 2009

Faleceu o Padre Chaves

Na passada sexta-feira faleceu no Hospital de Portalegre p sr. Padre António Rodrigues Chaves, com 80 anos de idade, feitos a 11 de Abril.
Era natural de Alcaravela, fora ordenado a 27 de Junho de 1954, e tinha residência em Flor da Rosa (Crato) onde era pároco. Nesta zona servira as paróquias de Flor da Rosa, Aldeia da Mata, Chancelaria, Crato-Mártires; em tempos idos foi pároco de Sobral do Campo, Ninho de Açor, Póvoa de Rio Moinhos e Cafede na zona de Castelo Branco, e de Carreiras e Ribeira de Nisa na zona de Portalegre.
O funeral realizou-se no dia seguinte para a sua terra natal, sob a presidência do Bispo da Diocese.
Paz à sua alma.


Fonte: http://www.reconquista.pt/noticia.asp?idEdicao=191&id=15575&idSeccao=1987&Action=noticia

domingo, 19 de julho de 2009

Prestígio reconhecido no regresso à família do futebol

Manuel Barata recebeu o galardão mais importante da Gala do Futebol, que premiou atletas, técnicos e dirigentes.
Manuel Barata voltou à família do futebol para receber o Troféu Prestígio da primeira Gala de Futebol do Distrito de Castelo Branco. O empresário natural de Castelo Branco foi galardoado no último sábado com o troféu mais significativo da festa organizada pela Associação de Futebol de Castelo Branco (AFCB) “por toda uma carreira, toda uma vida, de dedicação ao futebol do distrito com particular incidência no seio do organismo máximo do distrito”, referiu o presidente da associação, Carlos Almeida, na apresentação do prémio.
O vencedor deste troféu é escolhido pela direcção da AFCB, depois das sugestões feitas por um júri. A distinção surpreendeu-o por estar “há tantos anos afastado desta família do futebol”, referiu o homenageado na hora de receber o prémio.
“Eu sinto que fiz alguma coisa e por vezes com muito sacrifício, com muitas dificuldades, porque não era fácil naquele tempo” referiu já no final da cerimónia, em declarações ao Reconquista. O empresário nascido em Castelo Branco sente-se realizado com a dedicação à actividade empresarial, mas confessa sentir falta da ligação ao desporto. O regresso é assim uma possibilidade e até já houve oportunidades para o fazer num passado recente. Mas para já depende da actividade profissional.
“Vivi sempre com essa mágoa, de me ter afastado muito cedo do desporto”, referiu.
Manuel Barata foi dirigente do Benfica e Castelo Branco e presidente da Junta de Freguesia de Castelo Branco no inicio da década de 1980.
O Troféu Prestígio foi o culminar de uma cerimónia que aconteceu na Herdade do Regato em Póvoa de Rio de Moinhos, onde estiveram presentes figuras do desporto de toda a região e não só. O momento foi ainda aproveitado para a entrega das taças das várias competições organizadas pela AFCB.
Para o presidente da associação, a gala é um estímulo “a uma cultura baseada no mérito”, culminando uma época que também foi de apostas para a própria entidade.
“É com uma ponta de orgulho que digo que fomos e vamos continuar a ser pioneiros em alguns campos”, referiu Carlos Almeida, que apontou como exemplo a associação da principal competição do futebol distrital a uma marca, criando assim a Liga Piornos.
Na próxima época avançam as cadernetas de cromos para todas as competições, como o Reconquista já tinha noticiado. O trabalho desenvolvido pela AFCB foi elogiado por Sérgio Luz, que representou a Federação Portuguesa de Futebol na gala.
Além do Troféu Prestígio foram distribuídos 11 prémios em várias categorias (ver lista de vencedores) com algumas a serem comuns ao futebol e ao futsal. Facto que mereceu o reparo de José Luís Mendes, vencedor do troféu de melhor treinador futsal sénior pela Associação Desportiva do Fundão, que sugeriu a distinção entre as duas modalidades na atribuição dos prémios.
Lista de vencedores:
ÁRBITRO: Gonçalo Carreira
TREINADOR DE FUTEBOL E FUTSAL DE FORMAÇÃO: Francisco Lopes/ Desportivo de Castelo Branco
TREINADOR FUTSAL SÉNIOR: José Luís Mendes/ Associação Desportiva do Fundão
ATLETA SÉNIOR FUTSAL: Flávio Fonseca (Cadete)/ Casa do Benfica de Penamacor
ATLETA SÉNIOR FUTSAL CAMPEONATOS NACIONAIS: Vinicius Machado/ Associação Desportiva Fundão
ATLETA FEMININO FUTSAL: Rute Duarte/ Associação Desportiva do Fundão
TREINADOR FUTEBOL SÉNIOR: Eduardo Húngaro/ Sertanense
ATLETA FORMAÇÃO FUTEBOL E FUTSAL: Daniel Sousa/ Retaxo
ATLETA SÉNIOR FUTEBOL CAMPEONATO DISTRITAL: Nuno Alves/ Proença-a-Nova
ATLETA SÉNIOR FUTEBOL CAMPEONATOS NACIONAIS: Edgar Sá/ Sporting Covilhã
DIRIGENTE: José Mendes/ Sporting Covilhã
TROFÉU PRESTÍGIO: Manuel Barata
Por:
José Furtado

Fonte: http://www.reconquista.pt/noticia.asp?idEdicao=185&id=14686&idSeccao=1909&Action=noticia

Os maneios: ervagens e gados

Em artigo anterior, afirmámos que, na segunda metade do século XVIII, o povo da Póvoa continuava a dispor de terrenos baldios onde apascentar os seus gados, apesar do crescente individualismo agrário.
A documentação que consultámos, autos de arrematações (1) e autos de vereações camarárias (2), permite-nos identificar, na Póvoa, as seguintes ervagens: Boqueirões, ervagem da Abelheira, Coutada, ervagem da Lameira do Salgueiro, Navedeguas (Nave de Éguas, actualmente chamada Navedegas), ervagem das Regateiras, ervagem do Tiracalça, ervagem do Vale do Coelheiro, ervagem do Vale da Vinha e ervagem das Várzeas, entre outras.
A arrematação das ervagens era uma importante fonte de receitas. Em Agosto de 1776, a Câmara arrematou um bocado da Coutada, o couto da Fonte Ferreira, para pagar as ordinárias, imposto que o concelho tinha de pagar anualmente. A pastagem foi vendida para o período de S. Miguel até 12 de Março do ano seguinte.
No ano de 1768, em Abril, foram vendidas as pastagens das ervagens da Abelheira, das Regateiras e das Várzeas. No ano seguinte, as da Abelheira, das Regateiras, do Vale do Coelheiro e do Vale da Vinha. Em 1770, sempre na Primavera, arremataram-se as da Lameira do Salgueiro, do Tiracalça e do Vale do Coelheiro.
As informações dos dois parágrafos anteriores permitem-nos tirar algumas conclusões, suportadas ainda pelo que sabemos ter sido prática habitual nas ervagens do vizinho concelho de S. Vicente da Beira, nomeadamente na ervagem das Chiolicas.
As ervagens eram semeadas de pão cada três anos, ficando no ano seguinte de restolho e no outro de relva. Tanto os proprietários como os camponeses sem terra, os seareiros, aproveitavam estas terras para produzir centeio. Estes só usufruíam da terra entre a alqueivação e a ceifa. Finda esta, a ervagem voltava à propriedade comum dos vizinhos.
Estes eram livres de apascentar ali os seus gados, mas em algumas, por certos períodos, esse direito era exclusivo de quem arrematasse as pastagens à Câmara. Por exemplo, a ervagens da Abelheira e das Regateiras foram arrematadas, em 1768 e 1769, o que significa que o ano de 1770 foi o da cultivação. Por outro lado, as pastagens das ervagens da Lameira do Salgueiro e do Tiracalça só foram vendidas em 1770, tendo sido alqueivadas num dos anos anteriores e no outro ficaram como pastagens livres para os gados do concelho. Há ainda ervagens que nunca parecem arrematadas, o que significa que eram usadas livremente.
Os criadores de gado que arrematavam as ervagens podiam ser da Póvoa ou de fora. A arrematação era feita na praça e ficava com a ervagem quem desse mais. Além dos criadores da Póvoa, compraram pastagens, nestes três anos referidos, João Duarte Ribeiro do Casal da Serra, mas com raízes em Tinalhas e no Freixial, Manuel Henrique Neto de Tinalhas e Manuel Simão Barrigudo de Alcains.
Por vezes, os criadores associavam-se para comprar e aproveitar a pastagem. Assim aconteceu, em 1769, com a viúva Maria de Sousa que, com mais companheiros, arrematou a ervagem do Vale da Vinha, por sessenta mil e oitocentos réis.
Anualmente, todos os criadores de gado declaravam à Câmara o número de ovelhas que possuíam e a quantidade de lã produzida. Eram os chamados manifestos dos gados, para o conhecimento do «…juízo dos lanifícios da superintendência da vila da Covilhã.»
Neste ano de 1776, havia 10 rebanhos de ovinos na Póvoa, sendo um de dois criadores. O maior rebanho era o de Domingos Martins Cabaços, com 240 animais, e havia dois apenas com 60 ovelhas. Existiam um total de 1.165 ovinos (590 de lã branca e 575 de lã preta), que produziram 59 arrobas de lã branca e 57,5 arrobas de lã preta. Quase toda esta lã era obrigatoriamente vendida à fábrica da Covilhã, ficando cada família apenas com uma quantidade mínima, mas suficiente, para confeccionar a roupa e os agasalhos domésticos.
(1) ADCB, Câmara Municipal da Póvoa de Rio de Moinhos, Vereações, livro 1775-1777, caixa 1.
(2) ADCB, Câmara Municipal da Póvoa de Rio de Moinhos, Arrematações, livro 1767-1772, caixa 2.
José Teodoro Prata

Fonte: http://www.reconquista.pt/noticia.asp?idEdicao=186&id=14897&idSeccao=1925&Action=noticia

A economia local no século XVIII

(...)
Enquanto o trigo e o centeio marcavam presença, com maior ou menor intensidade, um pouco por todo o território que hoje integra o concelho albicastrense, já os milhos (com destaque para o “grosso” ou “maiz”) impunham-se nas freguesias de Castelo Branco, Alcains, Cafede, Escalos de Baixo e de Cima, Louriçal, Póvoa de Rio de Moinhos, Salgueiro, Sobral do Campo, Almaceda e Sarzedas, ou seja, em espaços onde a rede hidrográfica (com as suas margens cultiváveis) mais se adensava.
(...)

domingo, 28 de junho de 2009

O cultivo dos campos: folhas e ervagens

Póvoa de Rio de Moinhos - ontem e hoje

Em trabalho anterior, apresentámos a carta de emprazamento de um prazo da Ordem de Avis a Catarina Brás. Nele se referiam as folhas da Cabeça Carvalha, de Cea e do Vale da Vinha.
Ribeiro Sanches, no ano de 1777, na saudade da sua velhice parisiense, recordava a infância em Penamacor, cerca de 1700. Em “algumas causas da perda da agricultura de Portugal depois do ano de 1640”, define, em nota, o que eram as folhas: «…é aquele terreno que a Câmara da Vila determina para se lavrar, e cultivar naquele ano, deixando em relva o restante do termo para pastos dos animais. Por esta Economia Camaral, ficam todos os anos duas ou três partes das terras lavradas do Reino para pastos e uma ou duas partes para sustento dos Habitantes.»
Na Póvoa, o documento em estudo permite-nos concluir que as antigas folhas comunais já tinham passado, pelo menos em parte, para a posse de particulares, neste ano de 1766. No entanto, mantinham a designação de folhas e a prática do seu cultivo, com cereais, apenas de três em três anos.
As três folhas em causa situavam-se longe da vila, nas margens da Ocreza, na zona da actual barragem de Santa Águeda e imediatamente a jusante dela. Além destas, na margem esquerda da ribeira era a folha da Lardosa e na margem direita, um pouco mais acima, situava-se a folha das Chiolicas, actualmente chamada Cholcas, já no concelho de S. Vicente da Beira. Se a estas acrescentarmos a ervagem da Anta, a montante da actual barragem, que também se cultivava de cereais cada três anos, podemos concluir que todo o campo do vale da Ocreza, desde as proximidades do Louriçal até ao fundo do Vale da Vinha, fora desde tempos antigos terra baldia, que as autoridades arrematavam a particulares, proprietários ou seareiros, para o cultivo de cereais, principalmente de centeio, de três em três anos, ficando nos outros anos de restolhos e de relvas para os gados, em pastagem livre ou arrematada a criadores de gado.
Neste caso concreto, pelo menos parte destes baldios andavam na posse da Ordem de Avis. Este facto não contradiz o afirmado anteriormente, uma vez que originalmente a Póvoa foi pertença desta ordem, dela tendo recebido autonomia administrativa.
Como vimos, no século XVIII, a propriedade comum das folhas já evoluíra para propriedade particular. Outra marca do crescente individualismo agrário era a vedação das propriedades particulares com paredes, as chamadas tapadas. Elas já existiam na Horta do Salvado e junto à povoação, permanecendo ainda abertos os campos e pastagens das margens da Ocreza.
No dia 2 de Janeiro de 1777, fez-se o auto de vistoria de uma tapada de António Marques Carolo o velho, a fim de verificar se a vedação da propriedade com paredes prejudicava os interesses da população. A Câmara estava representada por um juiz ordinário, pelos dois vereadores e pelo procurador do concelho. Os interesses do povo foram defendidos pelo procurador do povo e oito pessoas da governança. A tapada foi autorizada, por não dar «…prejuízo a pessoa alguma, nem ao bem comum do Povo.»
Mas o povo continuava a deter alguns espaços baldios, geridos pela Câmara. Em próximo artigo, ocupar-nos-emos destas ervagens e da sua utilização pelos criadores de gado da Póvoa.
José Teodoro Prata

CDS defende convergência das pensões

O cabeça de lista do CDS/PP às Eleições Europeias, Nuno Melo falou quinta-feira, dia 28 de Maio, a um grupo de alunos da Universidade Sénior Albicastrense – USALBI sobre as preocupações que o Partido sente em relação às baixas reformas dos portugueses.
Defendendo que não quer votos a troco de “sacos de plástico, esferográficas ou de calendários”, mas sim, “porque é merecido”. E para merecer este voto, atendendo a que a plateia era maioritariamente sénior, Nuno Melo defendeu a convergência das pensões, algo que Bagão Félix, enquanto ministro da Segurança Social tentou implementar.
O cabeça de lista do CDS/PP lamenta que haja pessoas, “que descontaram uma vida inteira” a viver com um reforma de 220 ou 243 euros, enquanto os números do Rendimento Social de Inserção, anteriormente designado por Rendimento Mínimo, duplicou, em quatro anos, a sua dotação financeira no Orçamento de Estado.
Critica também algumas medidas que este Governo tomou, como a eliminação de comparticipação em alguns medicamentos, bem como a taxação de quem ganha 500 euros, isto “feito por um Estado que só comete excessos”.
Por outro lado, refere, “a taxa de desemprego também é a maior dos últimos 25 anos, sendo Portugal o país com maiores desigualdades da Europa, com muita gente no limiar da pobreza, sobretudo os idosos que usufruem de pensões mínimas”.
Mas além dos idosos, também “20 em cada 100 jovens estão desempregados”, defendendo que “é preciso incentivar a natalidade e é necessário ter mais jovens a trabalhar, para ajudarem os mais idosos, pois um estado democrático ajuda quem precisa”.
Nuno Melo reitera que “o CDS/PP não é contra o Rendimento Mínimo, mas sim contra a falta de fiscalização da atribuição do mesmo, provocando grandes injustiças, comparativamente com os que sempre trabalharam e fizeram os seus descontos e agora não têm uma reforma que lhes permita, pelo menos, viver condignamente”, acrescentando que “há muita gente a receber esse Rendimento Mínimo que precisa menos que os pensionistas”.
Os candidatos
Nesta sessão com Nuno Melo esteve também presente o cabeça de lista à Câmara Municipal de Castelo Branco pelo CDS/PP, Luís Paixão, mas também os candidatos à Câmara e Assembleia Municipal de Idanha-a-Nova, o advogado e professor Pedro Sousa e a jurista Marta Falcão.
Recorde-se que o CDS/PP também já avançou com João Gonçalves em Belmonte, Vítor Gabriel em Penamacor (aqui em coligação com o PSD) e Aires Patrício e Manuel Saraiva, à Câmara e Assembleia Municipal do Fundão.
Para já, o CDS/PP tem também o candidato mais jovem do distrito, João Freire Jerónimo, de 19 anos, que encabeça a lista à Junta de Freguesia de Póvoa de Rio de Moinhos.

Trinta nomeados para a gala do futebol

Os protagonistas estão distribuídos por dez categorias, às quais se juntam a de melhor árbitro (1º classificado do CA) e o Troféu Prestígio, para uma figura marcante.
São trinta os agentes desportivos nomeados para a primeira Gala do Futebol do distrito de Castelo Branco, que irá realizar-se a 20 de Junho, 19h30,na Herdade do Regato, Póvoa de Rio de Moinhos.
Os candidatos aos troféus de melhores intérpretes da temporada futebolística (futebol e futsal) estão distribuídos por dez de doze categorias. As duas restantes dizem respeito ao Troféu Prestígio, que irá distinguir uma figura grada para o futebol do distrito, a divulgar apenas no dia da Gala (tal como os vencedores das várias categorias), e ao melhor árbitro que, naturalmente, tratando-se de uma iniciativa da AFCB, vai distinguir o primeiro classificado da tabela do Conselho de Arbitragem, no caso Gonçalo Carreira.
A Gala do Futebol, um dos sete pontos fixados no projecto de intervenção da actual equipa dirigente da AFCB, tem na edição de estreia o patrocínio da Câmara de Castelo Branco. Oito órgãos de comunicação social do distrito, entre os quais o Reconquista, são parceiros activos do evento.
Carlos Almeida, presidente da Associação, considerou em Março, durante a apresentação pública da Gala, ser este “um espaço que até ao momento estava por preencher”, dado partir da instituição que superintende o futebol no distrito de Castelo Branco, para além de constituir “um momento de excelência” para entrega das taças aos campeões das provas que a AFCB promoveu ao longo da época.
Com a apresentação esta semana dos nomeados, cumpre-se mais um passo para a cerimónia do dia 20, um sábado. Lá estão aqueles que marcaram, claramente, pontos ao longo da temporada, sabendo o júri que “outros poderiam muito bem estar nomeados” e que uma iniciativa desta natureza, à semelhança do que acontece noutras áreas e ao nível nacional e internacional, nunca será geradora de consensos. Por isso, a estrutura organizativa desafiou um júri de oito elementos identificados com a área.
A Gala do Futebol tem, para a AFCB, um carácter motivador. Um veículo de combate “ao afastamento existente em relação ao associativismo”. Carlos Almeida espera que o certame possa incentivar o ressurgimento de emblemas e pessoas, contrariando uma tendência que de há uns anos a esta parte tem emagrecido, significativamente, os quadros competitivos, nomeadamente ao nível dos seniores.
Nomeados

Dirigente
- Aníbal Antunes (Estreito)
- José Mendes (Sp. Covilhã)
- Paulo Farinha (Sertanense)
Jogador sénior
(camp. nacionais)
- Bruno Xavier (Sertanense)
- Edgar (Sp. Covilhã)
- Miguel Vaz (BC Branco)
Jogador distrital
- Nuno Alves (Proença)
- Pira (Estreito)
- Quinzinho (Alcains)
Jogador de futsal
(camp. nacionais)
- Esteves (AD Fundão)
- Hugo Nunes (B. Esperança)
- Vinícius (AD Fundão)
Jogador de futsal
(camp. distritais)
- Cadete (CB Penamacor)
- Hélder Pinto (C. Formoso)
- Liléu (CB Penamacor)
Atleta da formação
(futebol e futsal)
- Adriano (Sp. Covilhã)
- André Caio (Desportivo)
- Dany (Retaxo)
Atleta feminino:
- Joana Santos (AD Fundão)
- Raquel Fernandes (Donas)
- Rute Duarte (AD Fundão)
Treinador futebol
(seniores)
- E. Húngaro (Sertanense)
- Hugo Andriaça (Alcains)
- Nuno Fonseca (BC Branco)
Treinador da formação
(futebol e futsal)
- Chico Lopes (Desportivo)
- José Agostinho (Sp. Covilhã)
- Ludovico Matos (Cortes do Meio)
Treinador de futsal
- Bruno Travassos (CB Penamacor)
- José Luís (AD Fundão)
- Joel Rocha (ADF feminino)
Melhor árbitro
Gonçalo Carreira (CA da AFC Branco)

Fonte: http://www.reconquista.pt/noticia.asp?idEdicao=183&id=14430&idSeccao=1881&Action=noticia