quarta-feira, 23 de junho de 2010

Medicamentos naturais

A par com a Fitoterapia sempre existiram as superstições, as mezinhas e as crenças, isto é a cura da doença associada ao mito e à religião. Por volta dos anos 60 e 70 era prática corrente na Póvoa envolver o pescoço da criança com papel pardo untado com gordura de galinha aquecida para tratar a Parotidite Infecciosa, popularmente conhecida como papeira, uma doença da infância, de transmissão respiratória.

Na Póvoa para a cura do “Cobrão", no dizer das suas gentes, uma afecção cutânea, lateral ou circulante do peito ou abdómen, que em medicina, se designa por “Zona” (virose provocada por uma variante do vírus do herpes) recorria-se a uma mezinha: a afecção cutânea é benzida com azeite, em pernão (leia-se número ímpar), dizendo a seguinte reza:

“Pedro e Paulo foram a Roma Jesus Cristo encontrar, Jesus lhes disse há lá muito ezipo, muito mais haveria se não houvesse quem retalharia, eu retalho cobra, cobrão, alsepão, aranha, aranhão com azeite virgem, não junte o rabo com a cabeça, em louvor a São Silvestre, e não faz coisa que preste” e terminando com a oração do “Pai-Nosso”.

E com muitas mais mezinhas nos deparamos ainda hoje na Póvoa: sempre que alguém coze o pão a lenha tem por hábito benzer a massa ao mesmo tempo que diz: “Nosso Senhor te levede, Nosso Senhor te acrescente, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”; beber aguardente de medronho com mel quente constitui uma mezinha para constipações; água salgada morna, em gargarejos, é usada para inflamações de garganta (o acto de gargarejar assim como o calor da água estimulam a circulação de sangue local, enquanto que o sal actua como anti-séptico); um banho quente de água salgada serve para descontrair e um banho de pés em água quente, com sal, é útil em situações de problemas circulatórios e insónias.

A partir do século XX, deu-se o exponencial desenvolvimento da indústria farmacêutica, mas, e ao contrário do que se possa pensar, as plantas não foram postas de parte. Ao longo de centenas de gerações as propriedades terapêuticas das plantas foram sujeitas a uma contínua comparação e avaliação, razão pela qual não é de surpreender que a ciência moderna confirme regularmente propriedades curativas que foram descobertas há centenas de anos. Por exemplo o salgueiro-branco contém na sua casca a salicina, a substância química que levou à descoberta do ácido acetilsalicílico, (a substância activa da Aspirina), usado como analgésico, anti-pirético e anti-inflamatório. Nas sociedades industrializadas os medicamentos feitos a partir dos recursos naturais, e apresentados sob a forma de chás, ampolas, comprimidos, cápsulas, cremes e pomadas, estão a aumentar de popularidade, não como uma criação de “moda nova”, mas como o reemergir de uma prática antiga e universal.

O conhecimento do homem sobre as propriedades curativas das plantas reflecte-se numa notável evolução cultural e intelectual da civilização humana, ao nível das várias terapêuticas, sendo disso testemunha as várias gerações de Póvoa de Rio de Moinhos.

Paula Maria Ramos Martinho Figueiredo


Fonte: http://www.reconquista.pt/noticia.asp?idEdicao=234&id=21524&idSeccao=2565&Action=noticia

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