sexta-feira, 10 de abril de 2009

E as pessoas?

Em artigos anteriores abordaram-se as condições técnicas e económicas que permitiram a fixação e a sobrevivência de populações nas margens da Ocreza e registaram-se os testemunhos de modos e formas de vida que, vindas da noite dos tempos, persistiram quase até ao nosso tempo. Falámos da terra, da economia, da técnica, mas os sujeitos da história são os homens, colectiva e individualmente, e é neles que nos vamos agora deter.
Em mais de 700 anos de existência histórica, a população da Póvoa aumentou dos primitivos 35 casais, em 1236, para as 278 famílias residentes contabilizadas no Recenseamento Geral de 2001. Não podemos saber a quantas pessoas correspondiam os 35 casais, mas sabemos que no início do século XXI viviam na Póvoa 685 pessoas. Foi uma evolução gradual nem sempre no mesmo sentido. Primeiro, um crescimento contido, pontuado por crises de subsistência frequentes, depois, quando as alterações económicas e sanitárias o possibilitaram, um aumento demográfico consistente. Segundo os censos, atingiu o máximo de população na década de 1940, com 1.163 habitantes.
Vamos então ver de mais perto essa evolução. Em 1708, diz-nos o padre António Carvalho da Costa, na Corografia Portuguesa, que a Póvoa de Rio de Moinhos tinha 280 vizinhos. Depois do Terramoto, em 1758, é a vez do cura Manuel Rodrigues Malha informar que a vila contava 150 vizinhos perfazendo 400 pessoas adultas. Em 1801, foi o pároco Faustino Marques Carolo que esclareceu a Câmara Eclesiástica da diocese de Castelo Branco dizendo que a freguesia de S. Lourenço tinha 156 fogos e um total de 565 pessoas, sendo 258 do sexo masculino e 307 do feminino. Tinham ainda nesse ano nascido na vila 8 homens e 7 mulheres e morrido igual número.
Outro meio século passou até o pároco João José da Fonseca vir assegurar que, em 30 de Dezembro de 1849, havia na Póvoa, então freguesia do concelho de S. Vicente da Beira, 192 fogos e 461 “almas”. Quinze anos mais tarde, em 1864, o 1.º Recenseamento Geral da População reconhecia 791 pessoas distribuídas por 214 fogos.
Em quinze anos é um aumento significativo que poderá significar um maior bem-estar e uma expectativa optimista relativamente ao futuro, factores sempre estimulantes para a constituição de novos agregados familiares autónomos. Quanto à divergência dos cálculos referidos pode atribuir-se a diferentes critérios e a diferentes finalidades de uma e de outra contagem. Universal a de 1864; restritiva a de 1849, que não teria contabilizado as crianças sem idade para acederem à comunhão.
Em 1878 éramos 807, depois, a crescer, segundo dados dos recenseamentos feitos de dez em dez anos, 898 em 1890, 941 em 1900, 1058 em 1911, 968 em 20 (ai a pneumónica!), 1028 em 30, e depois de, em 1940, se registarem 1163 habitantes, a descer: 1130 em 1950, 1114 em 60, 795 em 70 (a grande quebra com a emigração), 851 em 80 e 768 em 1990. No início do milénio, 685.
Para além destes números oficiais, dispomos de outros elementos quantitativos que nos vão dando o quadro socioprofissional da Póvoa. Por exemplo, um documento de 1779, que faz o levantamento dos 167 agregados familiares, permite-nos conhecer o nível dos rendimentos ou a profissão exercida pelo cabeça de cada um deles. Os que desempenhavam os diversos ofícios e mesteres necessários a um pequeno povoado – no comércio, nos transportes, nas artes, nos serviços, na actividade agrícola – e um grupo significativo, sem profissão indicada, que é referido pela sua posição numa escala socioeconómica.
No fundo dessa escala, 23 agregados pobres a que se junta um outro que vive de esmolas. São todos, com uma única excepção, constituídos por viúvas ou mulheres solteiras: a condição de pobre é, portanto, inerente à condição feminina. Acima, outros 23, em que uma vintena continua a ser de solteiras ou viúvas que vivem de trabalho não especificado e mais três famílias que recebem soldada. Subindo, um grupo numeroso (16 agregados) que vivem de suas fazendas e, no topo, 7 que desfrutam do rendimento de lavoura.
Este último integra um caso de enobrecimento pelo casamento, uma Dona Perpétua, filha de Manuel Martins Preto, um homem da governança do concelho, levado prisioneiro pelas tropas espanholas, na sequência da Guerra dos Sete Anos, para Alcântara, onde faleceu.
Em próximos artigos vamos analisar o documento atentamente.
Benedicta Maria Duque Vieira

Fonte: http://www.reconquista.pt/noticia.asp?idEdicao=174&id=12986&idSeccao=1755&Action=noticia

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