segunda-feira, 27 de abril de 2009

Matrícula dos Moradores, 1779: um retrato social

A boa administração do Reino tornou-se um objectivo do poder central, na segunda metade do século XVIII. Mas para bem governar era imperioso conhecer e por isso se ordenou a contagem da população.
Foi o juiz de fora de S. Vicente da Beira quem coordenou o registo dos moradores da Póvoa, na sequência da matrícula dos moradores daquele concelho, embora a Póvoa fosse um concelho à parte. Certamente foi coadjuvado pelas autoridades da Póvoa, as quais terão registado os moradores desta vila.
O documento encontra-se no Arquivo Distrital de Castelo Branco, fundo da Câmara Municipal de S. Vicente da Beira, “Matrícula dos Moradores da Vila e Termo”, livro 1779, maço 35. Foram apontados o nome de cada chefe de família, o seu estado civil, o número de filhos ou outras pessoas que com ele vivam e a actividade económica ou profissional que garantia o sustento da casa.
A Póvoa contava, em 1779, 167 agregados familiares, num total de 520 habitantes. A média, por família, era de 3,1 pessoas, o que constitui um valor abaixo da média no Reino, que rondava as 3,5 pessoas por agregado familiar.
Nesta época, ainda eram frequentes as mortandades, por má alimentação, falta de higiene e poucos conhecimentos da ciência médica. De anos em anos, morriam quase todas as crianças e por vezes também grande número de jovens e adultos. Por isso, a população não aumentava, as famílias tinham poucos membros e a esperança de vida pouco passava dos 40 anos.
Quanto ao estado civil, 23 (14%) famílias eram chefiadas por pessoas solteiras, 99 (59%) formavam casais e 45 (27%) por pessoas viúvas. Nos casados, incluímos duas mulheres abandonadas pelos maridos.
Elas surgem em reduzido número, pois o chefe da família era quase sempre homem. As mulheres chamavam-se: Ana, Angélica, Catarina, Domingas, Engrácia, Francisca, Isabel, Joana, Joaquina, Josefa, Leonor, Maria, Maria da Conceição, Maria do Carmo, Margarida, Perpétua, Quitéria, Rita, Teodora e Vitória. Os nomes masculinos mais usados eram Manuel (33), José (14), Domingos (13), António (7), Francisco (7) e João (6). Quanto aos nomes de família, os habitantes da Póvoa distribuíam-se por mais de 50 apelidos.
Nesse tempo, os apelidos variavam em género. Havia o Domingos Leitão e a Margarida Leitoa, o João Franco e a Maria Franca. Se o pai e o filho tinham o mesmo nome, distinguiam-se assim: António Marques Carolo o velho e António Marques Carolo o moço.
Aos nomes de alguns moradores foram acrescentadas as alcunhas, para melhor os identificar. Alguns exemplos: António Alves Alferes, Domingos Franco Passarinho, José Fernandes Papudo, Manuel Alves Medelim, Manuel Fernandes Bronco, Manuel Fernandes Ferros, Manuel Vaz Almaceda e Maria Nunes da Estalagem.
Nos homens, não se fez distinção social, mas uma viúva destacou-se de todas as outras mulheres pelo título. Era a Dona Perpétua, tinha três filhos e vivia da lavoura. Uma outra mulher também foi diferenciada, mas por outro motivo. Chamava-se Josefa de Mena e era muda.
Em próximo artigo, faremos o retrato socioeconómico da Póvoa, a partir do mesmo documento.
José Teodoro Prata


Fonte:http://www.reconquista.pt/noticia.asp?idEdicao=176&id=13393&idSeccao=1782&Action=noticia

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