quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Póvoa de Rio de Moinhos e Póvoa de Ceia

Quem actualmente viajar na auto estrada A23 e saia junto a Alcains em direcção a S. Vicente da Beira, percorrendo a estrada nacional n.º 352, encontra, depois de ter atravessado a ribeira da Ocreza, uma povoação que tem o nome de Póvoa de Rio de Moinhos. Este nome mantém-se desde a sua origem. Os nomes dos lugares têm sempre qualquer coisa por detrás, há sempre uma razão de ser que se esconde nas palavras.
Neste caso, se é Póvoa, deve ter havido um documento de povoamento, se é de Rio de Moinhos, deve ter havido por aqui muitos moinhos, quer na ribeira da Ocreza quer na outra ribeira a seguir à povoação, a que o povo chmava antigamente a Ribeirinha, por ser mais pequena que a Ocreza, afluente do Rio Tejo. Assim é de facto: hoje há apenas ruínas de moinhos, nenhum deles a funcionar, dos muitos que antigamente por aqui existiram.
Em boa hora, a Câmara Municipal de Castelo Branco, em colaboração com a Junta de Freguesia da Póvoa, decidiu adquirir e recuperar um dos últimos moinhos, bem próximo da povoação.
Tal como os moinhos desapareceram, lá se foi também o local onde teria existido uma ocupação romana, a que a população chamava Vila de Ceia. O lugar foi objecto de escavações apressadas – porque as obras da barragem de Santa Águeda já tinham começado – arrastando as máquinas consigo muito material que hoje seria precioso. Jaz também debaixo de água a capela de Sant’ Águeda, local de devoção das povoações vizinhas, sobretudo Póvoa e Lardosa..
A história é feita de interrogações que se confirmam ou não se encontrarmos e interpretarmos os vestígios e os documentos que até nós chegaram.
Sobre o povoamento, sabemos que no ano de 1236, o Mestre da Ordem de Avis, Fernão Roiz Monteiro, com o seu convento, dá Carta de Aforamento a um grupo de povoadores de Pobra (Póvoa) de Ceia ou Ribeira da Ocreza, no termo de S.Vicente. A terra para o efeito foi dividida em casais, com obrigação destes darem uma dízima a Deus e outra à Ordem, compostas por dois alqueires de trigo e um alqueire de cevada por fogaça, colheita ao Senhorio da Ordem, reverência ou serviço a qualquer freire de Avis e portagem das coisas que aí fossem vendidas segundo o Foral Velho de S.Vicente’ .
Estas Cartas concedidas a um conjunto de povoadores, foram os instrumentos utilizados pela Ordem para fixar as pessoas ao território e, ao mesmo tempo, rentabilizá-lo. O património ía aumentando, a partir de doações régias ou particulares e às vezes até por aquisição.
Aqui temos, pois, a explicação para o nome de Póvoa, Póvoa de Ceia, em referência à velha ocupação romana. Será este provavelmente, o documento mais antigo sobre a Póvoa.
A região era de cereais. O trigo e o milho e principalmente o centeio cresciam por estas terras recém povoadas, a par das vinhas, pinheiros, carvalhos e muito mato por desbravar. Chegaram até nós nomes muito antigos que os evocam: “Carvalhais da Arrancada”, “Carvalhosa”, “Vale da Vinha”, Vale de Sabugal, Cabeça da Carvalha, etc.
Neste ambiente rural de sobrevivência, os moinhos, as azenhas e os fornos, foram os instrumentos de transformação que o homem medieval conheceu. A construção de um moinho não estava, porém, ao alcance de qualquer bolsa. Era algo dispendioso e apenas privilégio de alguns. Os interessados no negócio, ou eram os grandes senhores, ou as Ordens Militares que ocuparam e defenderam estes territórios.
Mas além dos documentos que fundamentam o povoamento, começam a aparecer documentos, registados e confirmados por tabeliães, relacionados com a compra e venda de moinhos. Assim,
Em Janeiro de 1292, o tabelião Pedro Moniz, de S.Vicente da Beira, regista numa carta a venda de um moinho situado em Rio de Moinhos, pelo preço de cinco morabitinos e meio (Ordem de Avis, Repartição de Portalegre, Doc 217, A.N.T.T);
Em Junho de 1332, encontramos uma carta de venda do direito de um pardieiro e da sessega de um moinho, no Ribeiro, chamado de Rio de Moinhos, por 56 soldos. Os vendedores são Lourenço Martins, Maria Eanes, sua mulher, e Afonso, irmão desta; o comprador é Rodrigo Eanes, irmão destes dois (Ordem de Avis, Repartição de Portalegre, Doc 417, A.N.T.T).
São apenas dois exemplos das dezenas de contratos de moinhos constantes da documentação. Parece assim poder explicar-se a evolução do nome para Póvoa de Rio de Moinhos, dada a sua abundância no local.
Entretanto, Portugal vinha alargando as suas fronteiras para Sul, com o apoio dos monges cultivadores e cavaleiros, que tinham por missão cristianizar, povoar e defender o território.
José Antunes Leitão

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